A partir dos anos 1950, sobretudo no governo JK, o forte incentivo à industrialização do país foi responsável por dois outros fenômenos correlatos. Primeiro, a urbani zação, com a migração do trabalhador do campo para a cidade em busca de melhores condições de vida. Segundo, o aumento cada vez mais considerável — à medida que as indústrias iam surgindo, elas alavan cavam também o setor de comércio e serviços — do número de trabalhadores e sua consequente sindicalização. Representantes de milhares de trabalhadores, essas centrais sindicais e sindicatos ganham força. Havia nessa classe social um apreço e uma preferência explícitos por João Goulart — o mesmo fenômeno que, nos anos 1930, tinha ocorrido com Getúlio Vargas. Já na cam panha de 1955, João Goulart havia obtido mais votos como candidato a vice do que JK, o candidato a presidente. Estava claro que, mais dia, menos dia, Jango chegaria à Presidência. A diferença de tratamento do governo para com os trabalhadores — entre os anos 1920 e 1960 — pode ser ilustrada na famosa frase de Washington Luís (de 1926), que dizia: “A questão social é caso de polícia.”
A história do Brasil é uma viagem redonda — para tomar uma expressão de Raymundo Faoro — que retorna sempre ao mesmo lugar. Em 1963, João Goulart põe em marcha as chamadas Reformas de Base, que colocaram as elites em polvorosa e lhes causaram urticária. Nos planos do governo, estavam as reformas agrária, educacional — a introdução do método Paulo Freire —, fiscal — limitando a remessa ao exterior de lucros das empresas multinacionais —, eleitoral — que daria condições para a saída da ilegalidade do Partido Comunista —, entre outras. Essas reformas caíram como uma bomba. João Goulart era, definitivamente, um homem corajoso.
Cronologia sumária do regime:
No dia 13 de março de 1964, João Goulart profere um discurso na Central do Brasil (Rio de Janeiro) para cerca de 200 mil pessoas, em que prega a reforma agrária e a nacionalização das refinarias estrangeiras de petróleo que operavam no Brasil.
No dia 31 de março, o General Olympio Mourão Filho é acionado. Havia sido ele também o responsável pelo falso Plano Cohen, que, como vimos, foi o motivo para a instituição do Estado Novo, em 1937. Tropas mineiras sob seu comando deslocaram-se para o Rio de Janeiro.
No dia 1 de abril de 1964, João Goulart estava em Brasília e resolve que partiria para Porto Alegre, onde, diante das circunstâncias, poderia organizar alguma reação. Nesse ínterim, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, decreta a vacância da Presidência e dá posse, mais uma vez — já havia assumido em 1961, quando da renúncia de Jânio Quadros —, ao presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli. Não houve resistência em Porto Alegre. Jango realmente resolveu desistir e partiu para o exílio no Uruguai. Neste dia 1o de abril de 1964 foi instituído o regime militar no Brasil, ferindo de morte, mais uma vez, a já combalida democracia brasileira.