Embora o censo de 1872, encomendado pelo imperador, tivesse revelado a face de um país ainda predominantemente rural, patriarcal, atrasado economicamente e fortemente dependente da exportação de commodities, nos últimos 20 anos, desde a pequena revolução econômica operacionalizada a partir dos anos 1850, alguma coisa havia mudado. As novas gerações já eram mais cosmopolitas e mais suscetíveis às influências das culturas inglesa e francesa. O Rio de Janeiro estava na vanguarda do país em termos de modernização. A cidade vinha ganhando sistematicamente a abertura de novas ruas e avenidas, calçamento, iluminação a gás, linhas de bonde… Seguindo as tendências da moda europeia (roupas, penteados, perfumes…), abriam-se solares, cassinos, salões de bailes etc. Surgiram confeitarias, charutarias, livrarias, hotéis, teatros, cabarés. Nunca antes o país havia sido envolvido por uma febre de transformações tão intensas como as que ocorreram entre os anos 1850 e 1870. Nesses 20 anos, deu-se início à longa passagem à urbanização e à cultura das cidades. Em um ambiente assim, a vida rural tradicional e a escravidão começaram a sofrer a pressão imensa da mudança. O país se dividiu, desse modo, entre duas mentalidades, que passaram a se hostilizar reciprocamente. Eram dois mundos em guerra permanente. A dinamização do consumo interno aumentou as receitas da Monarquia, cuja renda advinha – o grosso – das exportações de café, o que também mantinha o sistema nas mãos dessa elite. Para a Monarquia, a diversificação econômica e a modernização do país renderiam cada vez mais dividendos. O latifúndio gerava riqueza para poucas famílias. A indústria, o comércio e o trabalho assalariado gerariam mais poder aquisitivo e girariam a roda da economia: quanto maior o mercado consumidor, maior a produção, maiores as vendas, que gerariam mais empregos que gerariam mais consumo e assim infinitamente, na lógica de uma sociedade capitalista liberal. Essa era a geração da Princesa Isabel, que se encontrava relativamente diversificada, mais urbana e já crítica em relação à presença do trabalho escravo. Para a Princesa Isabel, estadista e herdeira do trono, era claro que a Monarquia deveria seguir o fluxo das mudanças e se conectar com o mundo novo.