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Antoine-Laurent de Lavoisier (1743-1794) não foi apenas um químico. Foi o homem que transformou uma disciplina medieval cheia de alquimia e mistério numa ciência exata, mensurável e previsível. No mesmo século em que a Revolução Francesa (1789-1799) incendiava Paris, Lavoisier media o ar que respiramos, pesava gases invisíveis e provava, balança na mão, que nada se cria nem se perde – apenas se transforma. Paradoxalmente, o homem que demonstrou a conservação da massa não conseguiu conservar a própria cabeça: foi guilhotinado em 8 de maio de 1794, aos 50 anos, com a frase célebre do juiz: “A República não precisa de sábios nem de químicos”.

Das salas de aula dos jesuítas ao laboratório privado

Nascido em 26 de agosto de 1743 numa família abastada de Paris, Lavoisier estudou no prestigioso Collège des Quatre-Nations (o atual Institut de France). Formou-se em Direito, mas a paixão pela ciência falou mais alto. Aos 25 anos já era membro da Academia Real de Ciências. O dinheiro vinha da Ferme Générale – o odiado sistema de arrecadação de impostos que o tornaria alvo da fúria revolucionária mais tarde.

Curiosamente, foi exatamente o dinheiro dos impostos que financiou o laboratório mais avançado da Europa na época, instalado no Arsenal de Paris. Balanças de precisão capazes de medir 1/10 000 de grama, fornos que suportavam 1 600 °C, tubos de vidro selados com perfeição: Lavoisier tinha tudo o que os cientistas de hoje invejariam em 1770.

A queda do flogisto: o fim de uma teoria de 100 anos

Durante todo o século XVII e boa parte do XVIII, dominava a teoria do flogisto. Segundo ela, toda substância combustível continha um “princípio inflamável” chamado flogisto que era libertado ao queimar. Quanto mais flogisto, mais inflamável. Quando um metal se transformava em cal (óxido), dizia-se que tinha perdido flogisto e ficado “desflogistizado”.

Lavoisier demonstrou que era exatamente o contrário.

Em experiências clássicas realizadas entre 1772 e 1777, pesou estanho e chumbo antes e depois de os aquecer em recipientes fechados. Resultado? Os metais ganhavam peso ao “calcinar-se”. Se perdessem flogisto, deveriam ficar mais leves. Como ganhavam peso, só podia estar acontecendo a fixação de alguma coisa do ar.

A “coisa” era o oxigénio.

O dia em que Lavoisier descobriu o oxigénio (e Priestley quase ficou com o crédito)

Embora Joseph Priestley e Carl Wilhelm Scheele tenham isolado o gás antes, foi Lavoisier quem compreendeu a sua natureza. Em 1774, Priestley visitou Paris e contou ao francês que, ao aquecer óxido vermelho de mercúrio, libertava um gás que fazia a vela arder com chama brilhantíssima. Lavoisier repetiu a experiência, mediu, pesou, calculou e, em 1778, publicou: aquele gás era um elemento novo, responsável pela combustão e pela respiração. Chamou-lhe “oxigénio” (gerador de ácidos, do grego).

A partir daí, a química nunca mais foi a mesma.

A Lei da Conservação da Massa: a primeira lei fundamental da química

Em 1789 – o mesmo ano da Tomada da Bastilha – Lavoisier publicou o Traité élémentaire de chimie, onde enunciou claramente:

“Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”

Realizou a famosa experiência da água: queimou hidrogénio com oxigénio dentro de um recipiente fechado e provou que a massa da água formada era exatamente igual à massa dos gases iniciais. A balança não mentia.

Este princípio, hoje óbvio, destruiu de vez a alquimia e abriu caminho para a química estequiométrica que estudamos no ensino médio.

Lavoisier e a reforma da nomenclatura química

Antes de Lavoisier, os compostos tinham nomes fantasiosos: óleo de vitriol, manteiga de arsénico, flores de zinco… Impossível sistematizar.

Em 1787, juntamente com Guyton de Morveau, Berthollet e Fourcroy, publicou o Méthode de nomenclature chimique, criando a nomenclatura ainda hoje usada:

  • NaCl → cloreto de sódio
  • H₂SO₄ → ácido sulfúrico
  • CO₂ → dióxido de carbono

Este sistema foi tão revolucionário que Antoine Lavoisier é considerado, ao lado de Isaac Newton, Charles Darwin e Albert Einstein, um dos pilares da ciência moderna.

O Lavoisier fisiologista: a respiração é uma combustão lenta

Com o matemático Pierre-Simon Laplace, Lavoisier colocou um porquinho-da-índia dentro de uma câmara de gelo e mediu o calor libertado e o CO₂ expirado. Conclusão: a respiração animal é uma combustão lenta de carbono e hidrogénio, exatamente como uma vela.

“A respiração não é mais do que uma combustão lenta de carbono e hidrogénio, semelhante em tudo à que se opera numa lâmpada ou numa vela acesa.”
— Lavoisier & Laplace, 1780

Este trabalho lançou as bases da bioquímica e da termodinâmica dos seres vivos.

O Lavoisier agricultor, economista e administrador

Pouca gente sabe, mas Lavoisier foi:

  • Membro da Assembleia Provincial de Orléans, onde lutou contra a fome
  • Diretor da Régie des Poudres (fábrica de pólvora) – triplicou a produção francesa
  • Criador do primeiro banco agrícola de França
  • Autor do relatório que inspirou o sistema métrico decimal (adotado em 1795, um ano após a sua morte)

A tragédia final: “La République n’a pas besoin de savants”

Como fermier-général (arrecadador de impostos), Lavoisier tornou-se alvo da Revolução. Apesar de ter defendido reformas, sido filantropo e até abolido a taxa sobre o sal (que prejudicava os pobres), foi preso em novembro de 1793 com os outros 27 fermiers.

O julgamento foi uma farsa. O presidente do tribunal, Coffinhal, pronunciou a frase que entrou para a história:

“A República não precisa de sábios nem de químicos; o curso da justiça não pode ser suspenso.”

Em 8 de maio de 1794, Lavoisier subiu ao cadafalso na atual Place de la Concorde com mais 27 colegas. Tinha 50 anos. Lagrange, o grande matemático, lamentou:

“Bastou um instante para cortar aquela cabeça, mas a França talvez não produza outra igual em um século.”

Legado eterno

  • A Lei da Conservação da Massa é ensinada em todas as escolas do mundo
  • A nomenclatura química que ele criou ainda está em uso
  • O Sistema Internacional (SI) deve-lhe muito
  • O seu Traité élémentaire de chimie é considerado o primeiro livro-texto moderno de química

Perguntas Frequentes sobre Antoine Lavoisier

Quem realmente descobriu o oxigénio?
Priestley e Scheele isolaram-no primeiro, mas foi Lavoisier quem compreendeu o seu papel na combustão e respiração, dando-lhe o nome e destruindo a teoria do flogisto.

Lavoisier era nobre?
Não. Era burguês enriquecido. O título “de Lavoisier” foi comprado pelo pai em 1750, prática comum na época.

Porque foi guilhotinado se era um homem da Ilustração?
Por ser fermier-général. A Revolução precisava de dinheiro e de bodes expiatórios. O passado de arrecadador de impostos pesou mais do que as suas contribuições científicas.

A mulher de Lavoisier também era cientista?
Sim! Marie-Anne Pierrette Paulze (1758-1836) traduzia artigos ingleses, desenhava as experiências com precisão artística e foi essencial para a obra do marido. Após a morte dele, publicou as suas memórias.

Lavoisier errou em alguma coisa?
Sim. Acreditava que todos os ácidos continham oxigénio (por isso o nome). Mais tarde descobriu-se o ácido clorídrico (HCl), que não tem oxigénio. Mas o erro foi fecundo: levou à descoberta de novos elementos.

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