“Não somos apenas corpos que pensam: somos almas aprisionadas que tentam lembrar a verdade.”
Explore a vida, a obra e o legado eterno de Platão, o discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, cuja influência atravessa mais de 2.400 anos e ainda ecoa na política, na ética, na ciência e até na sua tela de smartphone.

Quem Foi Platão? Contexto Histórico de uma Mente Genial

Platão (c. 427–347 a.C.) nasceu em Atenas no auge da Era Clássica grega, exatamente no período que chamamos de Civilização Grega c. 800–146 a.C.. A cidade vivia o esplendor da democracia direta após as Guerras Médicas e estava prestes a mergulhar na tragédia da Guerra do Peloponeso.

Filho de família aristocrática (o pai, Aristão, dizia descender do rei Codro; a mãe, Perictione, era parente do legislador Sólon), o seu nome verdadeiro era Arístocles. “Platão” (do grego πλατύς, “largo”) foi alcunha dada pelos colegas de ginástica por causa dos ombros largos ou, segundo outros, da testa ampla.

A juventude de Platão foi marcada por três choques profundos:

  1. A derrota de Atenas para Esparta em 404 a.C.
  2. O regime tirânico dos Trinta Tiranos (404–403 a.C.), no qual dois tios seus participaram.
  3. A condenação e execução de Sócrates em 399 a.C. – evento que o afastou definitivamente da política prática e o lançou na filosofia.

A Academia: A Primeira Universidade da História Ocidental

Após viajar pelo Egipto, Cirene e sobretudo pela Magna Grécia (sul da atual Itália), onde conheceu os pitagóricos, Platão regressou a Atenas por volta de 387 a.C. e fundou a Academia, nos jardins dedicados ao herói Academo. Funcionou continuamente durante quase 900 anos (até 387 a.C. – 529 d.C.), só sendo fechada por Justiniano.

Na entrada lia-se a famosa frase:

“Que ninguém entre aqui se não souber geometria.”

A Academia não era apenas uma escola de filosofia: era um centro de matemática, astronomia, biologia, ciência política e direito. Ali estudaram, entre outros, Aristóteles, o maior de todos os seus alunos.

A Teoria das Ideias: O Núcleo do Pensamento Platoniano

O cerne da filosofia de Platão é a Teoria das Formas ou Ideias. Para ele, o mundo que percebemos pelos sentidos é apenas sombra, cópia imperfeita de um mundo perfeito e eterno: o mundo das Ideias.

“Imagina homens numa caverna, acorrentados desde a infância, de frente para uma parede. Atrás deles arde uma fogueira e, entre a meio caminho, passam pessoas carregando objetos. Os prisioneiros só veem as sombras projetadas na parede e tomam-nas pela realidade…”
A República, Livro VII (o famoso Mito da Caverna)

Este mito explica:

  • O mundo sensível = sombras
  • O mundo inteligível = as Ideias (Beleza, Justiça, Bem, Igualdade, Triângulo perfeito, etc.)
  • O filósofo = o prisioneiro que se liberta, sai da caverna e contempla o Sol (a Ideia do Bem)

Amor, Alma e Eros: Do “Banquete” ao “Fedro”

No diálogo Banquete, Platão apresenta várias concepções de amor até chegar à famosa fala de Sócrates (na verdade, da sacerdotisa Diotima): o amor é desejo do que nos falta. O verdadeiro Eros não é desejo de corpos, mas desejo de gerar no belo – primeiro corpos, depois leis, ciências e, por fim, contemplação da própria Beleza eterna.

No Fedro, Platão descreve a alma humana como uma carruagem alada puxada por dois cavalos (um nobre, outro selvagem) conduzida por um auriga (a razão). Quando a alma contempla as Ideias, as asas crescem; quando cai no corpo, esquece-se delas – e a filosofia é precisamente a “reminiscência” (ἀνάμνησις).

Política e Utopia: “A República” e as Leis

Desiludido com a democracia ateniense que matou Sócrates e com as oligarquias, Platão escreveu o seu tratado político mais famoso: A República.

Principais ideias:

  • A cidade justa é aquela em que cada classe faz o que lhe compete:
  • Produtores (bronze) → apetites
    Guardiões/guerreiros (prata) → coragem
    Reis-filósofos (ouro) → sabedoria
  • Comunismo dos bens e das mulheres entre os guardiões
  • Educação rigorosa de 50 anos para formar os reis-filósofos
  • A famosa frase: “Ou os filósofos se tornem reis, ou os reis se tornem filósofos.”

Anos mais tarde, já idoso e após duas frustradas tentativas de “educar” o tirano Dionísio II de Siracusa, Platão escreveu As Leis, um projeto mais realista e menos utópico, com constituição mista e forte peso da religião.

Platão e as Outras Civilizações do Seu Tempo

Embora centrado na Grécia, Platão conhecia (ou pelo menos tinha notícia) de outras grandes civilizações:

  • Visitou o Antigo Egipto – Novo Império c. 1550–1070 a.C. e ficou impressionado com a estabilidade milenar
  • Teve contacto indireto com ideias persas através dos magos e possivelmente do zoroastrismo (Zaratustra)
  • Os pitagóricos do sul de Itália transmitiram-lhe conhecimentos matemáticos que remontavam à Babilónia c. 1894–539 a.C.
  • A influência indireta do Confucionismo e do pensamento chinês chegaria séculos depois, mas o paralelismo entre a busca do “Bem” platónico e o “Caminho” (Dao) de Lao-zi é impressionante.

O Legado: Por Que Ainda Lemos Platão Hoje?

  1. Filosofia ocidental – praticamente toda a filosofia posterior é, como disse Alfred North Whitehead, “uma série de notas de rodapé a Platão”.
  2. Ciência – a ideia de que a matemática descreve a realidade profunda vem diretamente dele (veja Euclides, Arquimedes, até Galileu Galilei).
  3. Política – conceitos como meritocracia, educação pública, divisão de poderes, guarda pretoriana, propaganda estatal… tudo tem raízes platónicas.
  4. Psicologia – Freud chamou ao seu conceito de inconsciente “o isso platónico”.
  5. Religião – o cristianismo medieval (Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino) bebeu profundamente no platonismo via Plotino.
  6. Arte – o ideal de beleza eterna influenciou Michelangelo, Leonardo da Vinci, o neoclassicismo e até o cinema moderno (The Matrix deve tudo ao Mito da Caverna).

Perguntas Frequentes Sobre Platão

Platão realmente escreveu tudo o que lhe é atribuído?

Dos 35 diálogos considerados autênticos pelos estudiosos atuais, apenas “Cartas” (especialmente a VII) é aceita como possivelmente autêntica. O resto é aceito pela quase totalidade dos especialistas.

Platão odiava a democracia?

Não exatamente. Ele criticava a democracia ateniense do seu tempo (demagogia, sorteio de cargos, condenação de Sócrates), mas não a democracia em abstrato. Defendia uma “aristocracia do espírito”.

Qual é a ordem correta para ler Platão?

Sugestão clássica:

  1. Apologia de Sócrates → Críton → Eutifron
  2. Laques → Cármides → Lísis
  3. Protágoras → Górgias
  4. Ménon → Fedão → Banquete → República
  5. Fedro → Teeteto → Parménides
  6. Timeu → Crítias → Leis

Existe uma biografia confiável de Platão?

Quase nada. A principal fonte é a Carta VII e referências em Diógenes Laércio (século III d.C.). O resto é lenda ou inferência.

Platão acreditava na reencarnação?

Sim. No Fedão, Górgias, República (Mito de Er) e Fedro defende a imortalidade da alma e a metempsicose (transmigração).

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