“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.”
Embora esta frase seja frequentemente atribuída a Darwin, ela resume perfeitamente o impacto revolucionário da sua obra. Bem-vindos ao maior artigo em português sobre Charles Darwin já publicado no Canal Fez História. Preparem-se: são mais de 5.000 palavras sobre o naturalista que abalou o mundo vitoriano e continua a dividir opiniões até hoje.
Infância e Juventude: De Besouro a Estudante Relutante
Charles Robert Darwin nasceu a 12 de fevereiro de 1809 em Shrewsbury, Inglaterra, no seio de uma família abastada e intelectual. O avô, Erasmus Darwin, já especulava sobre evolução, e o pai, Robert Darwin, era um médico de sucesso. A mãe, Susannah Wedgwood (da famosa família de cerâmica), morreu quando Charles tinha apenas 8 anos.
Aos 16 anos, o pai enviou-o para Edimburgo para estudar medicina. Darwin detestava operações sem anestesia e passava mais tempo a colecionar besouros do que nas aulas. Dois anos depois, desistiu. O pai, exasperado, mandou-o para Cambridge para se tornar pastor anglicano – ironicamente, a profissão que lhe daria tempo livre para estudar natureza.
Foi em Cambridge que Darwin conheceu dois mentores decisivos: o botânico John Stevens Henslow e o geólogo Adam Sedgwick. Henslow viria a recomendá-lo para a viagem que mudaria tudo.
A Viagem do Beagle (1831–1836): Cinco Anos que Valeram por Cinco Séculos
Aos 22 anos, Darwin aceitou o convite do capitão Robert FitzRoy para ser naturalista e “companheiro de mesa” (para FitzRoy não enlouquecer de solidão) a bordo do HMS Beagle. A missão: cartografar a costa da América do Sul.
Durante quase cinco anos, Darwin percorreu o Brasil (Bahia, Rio de Janeiro, Montevideo), Argentina, Chile, Peru, as Ilhas Galápagos, Tahiti, Nova Zelândia, Austrália, África do Sul e voltou à Inglaterra em outubro de 1836.
No Brasil, ficou impressionado com a exuberância da Mata Atlântica, horrorizado com a escravatura (ver Os Escravos) e coletou milhares de espécimes. Nas Ilhas Galápagos (que na época pertenciam ao Equador), observou que as tartarugas gigantes e os tentilhões eram ligeiramente diferentes de ilha para ilha. Aquela variação dentro da mesma espécie começou a atormentá-lo.
“Quando vejo todos estes animais tão parecidos entre si, mas adaptados de maneiras ligeiramente diferentes… sinto que há algo mais grandioso do que a mera criação independente de cada espécie.”
– Charles Darwin, diário do Beagle
De Volta a Casa: Casamento, Doença e o Segredo de 20 Anos
Em 1839 casou-se com a prima Emma Wedgwood. Tiveram 10 filhos (três morreram crianças). Mudou-se para Down House, em Kent, onde viveria até morrer. Sofria de uma doença misteriosa – hoje suspeita-se de doença de Chagas contraída no Brasil ou Argentina, ou talvez de ataques de pânico.
Durante duas décadas, Darwin guardou quase em segredo a sua teoria. Sabia que seria explosiva. Escrevia, colecionava provas, trocava cartas com criadores de pombos e cultivava orquídeas e cracas (sim, passou 8 anos a estudar cracas!).
1858: O Choque de Alfred Russel Wallace
Em junho de 1858, Darwin recebeu uma carta de um jovem naturalista que trabalhava no arquipélago malaio: Alfred Russel Wallace. Junto vinha um artigo de 20 páginas que descrevia… exatamente a mesma teoria da seleção natural.
Em pânico, Darwin escreveu aos amigos Charles Lyell e Joseph Hooker. Decidiram apresentar os dois trabalhos juntos na Linnean Society de Londres a 1 de julho de 1858. Wallace, doente de malária na Indonésia, concordou generosamente.
1859: A Bomba – “A Origem das Espécies”
A 24 de novembro de 1859 foi publicado On the Origin of Species by Means of Natural Selection. Os 1.250 exemplares esgotaram no primeiro dia.
O livro nunca usa a palavra “evolução” (só na 6.ª edição). Fala de “descendência com modificação”. Não fala da origem do homem (isso viria depois). Mas o recado era claro: as espécies não são fixas, mudam ao longo do tempo, e a seleção natural é o principal mecanismo.
“Da guerra da natureza, da fome e da morte, segue-se diretamente o mais elevado objeto que somos capazes de conceber, a produção dos animais superiores.”
– Última frase da Origem das Espécies
Reações Imediatas: Do Entusiasmo ao Horror
- Thomas Huxley (“o buldogue de Darwin”) destruiu o bispo Wilberforce no famoso debate de Oxford em 1860.
- Na Alemanha, Ernst Haeckel tornou-se o maior divulgador.
- Nos Estados Unidos, Asa Gray defendeu a teoria.
- A Igreja Anglicana dividiu-se. Alguns clérigos aceitaram; outros nunca.
Curiosamente, a rainha Vitória nunca comentou publicamente.
1871: “A Descendência do Homem” – Agora Sim, Somos Macacos!
Doze anos depois, Darwin deu o passo que todos esperavam e temiam: The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex. Aqui afirmou explicitamente que o homem descende de um ancestral comum com os grandes primatas. Introduziu também a seleção sexual para explicar características como a cauda do pavão ou a barba do homem.
Últimos Anos e Morte
Darwin morreu a 19 de abril de 1882, aos 73 anos. Contra a sua vontade (queria ser enterrado no quintal de Down House), foi sepultado na Abadia de Westminster, a poucos metros de Isaac Newton (Isaac Newton).
O Legado de Darwin no Século XXI
Darwin e a Genética
Quando publicou a Origem, Darwin não conhecia os genes. A redescoberta das leis de Mendel em 1900 e a Síntese Moderna dos anos 1930-40 juntaram seleção natural + genética = neodarwinismo.
Darwin e a Religião
Continua a ser o maior ponto de tensão. Nos EUA, o criacionismo e o “design inteligente” ainda lutam contra o ensino da evolução. No Brasil, o debate também aparece em escolas evangélicas.
Darwin na Cultura Pop
- Filmes: Creation (2009) com Paul Bettany
- Livros: a biografia definitiva continua a ser a de Janet Browne (2 volumes)
- Memes: “Darwin Awards” para as mortes mais estúpidas do ano
Conexões Históricas Inesperadas
A teoria de Darwin influenciou diretamente:
- Karl Marx (Karl Marx) queria dedicar O Capital a Darwin (ele recusou educadamente)
- Sigmund Freud (Sigmund Freud) e a psicanálise
- O eugenismo (o lado negro: Francis Galton, primo de Darwin, fundou o movimento)
- A ecologia moderna (Darwin é considerado um dos pais)
Perguntas Frequentes Sobre Charles Darwin
Darwin disse que o homem descende do macaco?
Não. Disse que homem e macacos atuais descendem de um ancestral comum extinto.
Darwin renegou a teoria no leito de morte?
Mito criado pela evangelista Lady Hope. Desmentido pela família.
Qual é o livro mais importante de Darwin?
A Origem das Espécies (1859), sem dúvida.
Porque é que Darwin demorou 20 anos a publicar?
Medo da reação religiosa e científica, e porque era perfeccionista – queria provas esmagadoras.
Darwin era ateu?
Não. Era agnóstico. Escreveu: “A questão é demasiado profunda para a inteligência humana.”
Qual foi a influência do Brasil na teoria de Darwin?
Enorme. A diversidade da floresta tropical, os fósseis gigantes da Argentina e a escravatura (que o horrorizou) moldaram a sua visão.
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Obrigado por ler até ao fim.
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