“O conhecimento é poder.”
Uma frase que resume não só a vida de Francis Bacon (1561-1626), mas toda a virada epistemológica que separou o mundo medieval do mundo moderno. Neste artigo mergulhamos fundo na trajetória deste gigante renascentista, contextualizando-o com as grandes transformações do seu tempo e mostrando por que, ainda hoje, ele é uma das figuras mais citadas quando falamos de ciência, política e filosofia.
Quem Foi Francis Bacon?
Francis Bacon, Barão de Verulam e Visconde de St. Alban, nasceu a 22 de janeiro de 1561 em Londres. Filho de Sir Nicholas Bacon, Lorde Guardião do Grande Selo da rainha Isabel I, e de Anne Cooke, uma das mulheres mais cultas da Inglaterra elisabetana, Bacon cresceu num ambiente de poder, erudição e ambição.
Estudou em Trinity College, Cambridge, e depois no Gray’s Inn, mas rapidamente se desiludiu com o ensino escolástico baseado em Aristóteles e na autoridade cega dos antigos. Para ele, a filosofia precisava de uma Grande Restauração (Instauratio Magna). Essa seria a sua missão de vida.
O Contexto Histórico: Entre o Renascimento e a Revolução Científica
Bacon viveu numa época explosiva. Enquanto Leonardo da Vinci desenhava máquinas voadoras e Michelangelo pintava a Capela Sistina, a Reforma Protestante e a Renascença abalavam as estruturas medievais. Ao mesmo tempo, as explorações portuguesas e a viagem de Colombo expandiam o mundo conhecido, e Copérnico já punha em causa o geocentrismo.
Neste cenário, Bacon percebeu que o verdadeiro motor do progresso não era mais a teologia, mas o conhecimento útil. Ele queria que a humanidade dominasse a natureza através da ciência prática — ideia revolucionária numa época em que ainda se queimavam bruxas.
A Nova Atlântida: Utopia Científica Antes de Sua Época
Em 1624, já doente, Bacon publica Nova Atlantis (publicada postumamente em 1627), a sua obra mais visionária. Nela descreve a ilha fictícia de Bensalem, governada pela “Casa de Salomão”, uma instituição de pesquisa coletiva onde cientistas trabalham em laboratórios, observatórios e jardins botânicos para melhorar a vida humana.
“O fim da nossa fundação é o conhecimento das causas e dos movimentos secretos das coisas; e o alargamento dos limites do império humano, para a realização de todas as coisas possíveis.”
Lendo hoje, é impossível não pensar nos modernos institutos de pesquisa, nas universidades americanas ou até na NASA. Bacon sonhou com tudo isso 400 anos antes.
O Método Baconiano: A Revolução do “Como” Perguntar
O grande contributo de Bacon foi o Novum Organum (1620), segunda parte da planejada Instauratio Magna. Nele critica os “ídolos” que bloqueiam o conhecimento:
- Ídolos da Tribo – erros comuns a toda a humanidade
- Ídolos da Caverna – preconceitos individuais
- Ídolos do Mercado – confusão causada pela linguagem
- Ídolos do Teatro – dogmas das escolas filosóficas
Em vez de dedução silogística aristotélica, Bacon propõe a indução progressiva: observar factos, fazer experiências controladas, tirar tabelas de presença, ausência e graus, e só então formular hipóteses. Foi o embrião do método científico que Galileu Galilei, Isaac Newton e todos os cientistas posteriores iriam aperfeiçoar.
Bacon e a Política: O Chanceler que Caiu em Desgraça
Paralelamente à obra filosófica, Bacon fez carreira política brilhante. Tornou-se Procurador-Geral (1613), Guardião do Selo (1617) e finalmente Lorde Chanceler (1618) sob Jaime I. Era o cargo mais alto da justiça inglesa.
Mas em 1621 foi acusado de corrupção — prática comum na época, mas usada pelos inimigos para o derrubar. Condenado, pagou multa pesada, ficou cinco dias na Torre de Londres e foi banido do Parlamento. Morreu cinco anos depois, em abril de 1626, vítima de pneumonia contraída… ao fazer uma experiência: encheu uma galinha com neve para ver se a carne se conservava (spoiler: funcionou, mas ele morreu).
Bacon e o Brasil? Uma Ligação Inesperada
Embora nunca tenha posto os pés na América, Bacon foi um dos grandes defensores da colonização inglesa. Escreveu ensaios sobre plantações e colónias, influenciando diretamente a fundação da Virgínia e da Nova Inglaterra. Curiosamente, o modelo de exploração que ele defendia — baseado em ciência aplicada à agricultura e à indústria — seria copiado séculos depois por Juscelino Kubitschek no “50 anos em 5”, com a criação da SUDENE e da pesquisa agropecuária que transformou o Cerrado em celeiro do mundo.
Legado: Por Que Ainda Estudamos Francis Bacon?
- Criou o conceito de pesquisa organizada – precursor das academias de ciências.
- Defendeu a separação entre ciência e religião (sem ser ateu).
- Inspirou o Iluminismo (Voltaire, Diderot, John Locke).
- Deu o pontapé inicial para a Revolução Industrial.
- É considerado, junto com Descartes, um dos pais da filosofia moderna.
Perguntas Frequentes Sobre Francis Bacon
Bacon era empirista ou racionalista?
Nem um nem outro exclusivamente. Era um empirista metodológico — acreditava que o conhecimento vem da experiência, mas organizada por um método rigoroso. Diferente do empirismo puro de John Locke ou do racionalismo de Descartes.
Ele fez alguma descoberta científica concreta?
Não. Bacon foi um filósofo da ciência, não um cientista prático. A sua grande “descoberta” foi o próprio método.
Por que a frase “conhecimento é poder” (scientia potentia est) é tão famosa?
Porque resume a sua crença de que o domínio da natureza através da ciência daria à humanidade um poder nunca antes visto — profecia que se cumpriu com a eletricidade, a medicina moderna e a bomba atómica.
Bacon apoiava a escravatura?
Infelizmente sim. Nos seus ensaios defende a escravatura como necessária para as colónias. É um lembrete de que até os génios têm os pés de barro da sua época.
Qual a melhor obra para começar a ler Bacon?
Comece pelos Ensaios (Essays, 1597-1625) — curtos, claros e surpreendentemente modernos. Depois avance para o Novum Organum e termine com a Nova Atlântida.
O Homem que Queria Dominar a Natureza
Francis Bacon morreu pobre e desacreditado politicamente, mas deixou uma herança que mudou o mundo para sempre. Hoje, quando um laboratório descobre uma vacina, quando um satélite é lançado ou quando um agricultor brasileiro planta soja no Cerrado usando ciência de ponta, é um pouco de Bacon que está ali.
Se quer continuar a viajar pela história da ciência e do pensamento, explore mais sobre Isaac Newton, Galileu Galilei, René Descartes, Charles Darwin ou até Albert Einstein aqui no Canal Fez História.
E não se esqueça de acompanhar as novidades no nosso canal do YouTube, Instagram e Pinterest:
📺 YouTube – @canalfezhistoria
📸 Instagram – @canalfezhistoria
📌 Pinterest – canalfezhistoria
A história não para — e nós também não. Até ao próximo artigo! 🚀
















