A Viagem de Colombo

A Viagem de Colombo

“Cristóbal colón

Nós, D. João […] vos enviamos muito saudar. […] E quanto à vossa vinda cá, certo, assim pelo que apontais como por outros respeitos para que vossa indústria e bom engenho nos será necessário e prazer nos há mauito de virdes porque o que a vós toca se dará tal forma de que vós deveis ser contente. […] E por tanto vos rogamos e encomendamos que vossa vinda seja logo e para isso não tenhais pejo algum e vos agradeceremos e teremos muito em serviço. Avis, 20 de março de 1488. A Cristóbal Colón nosso especial amigo em Sevilha.”

Essa carta de D. João II, enviada a Cristóvão Colombo, é um enigma. Com um histórico de assassinatos, traições, conspirações de todo tipo, D. João II era um homem cauteloso e gostava de andar bem informado. Infiltrava informantes e agentes por todo lugar, e não seria diferente na Espanha, sua maior concorrente no projeto de expansão comercial e marítima. Seria o tratamento dado a Colombo (“nosso especial amigo em Sevilha”) um indício de que ele era mais um dos agentes de D. João II?

É notório que, antes mesmo de prestar serviços para a Espanha, Cristóvão Colombo havia, por quase um década, tentando – a princípio em vão – oferecer seu projeto de navegação e de exploração em busca do caminho das Índias a D. João II. Em 1492, portanto, quando Colombo descobriu a América, estava a serviço de Castela. Bartolomeu Dias já havia, em 1488, constatado que o caminho para as Índias era navegando rumo ao sul, e não a oeste no oceano Atlântico. O fato de o projeto de Colombo ser o de navegar no sentido oeste no Atlântico não teria sido propositalmente com o intuito de desviar a atenção de Castela da rota para o sul?

Esse projeto apresentado a Castela não teria sido previamente combinado entre Colombo e D. João II, com o propósito deliberado de desviar Castela do verdadeiro caminho das Índias? Se assim foi, porém, as promessas e as amostras de metais e pedras preciosas que Colombo havia trazido da viagem colocaram D. João II em alerta. Em uma terra em que o rei tinha informações de ser completamente árida do ponto de vista comercial, havia tesouros ainda mais valiosos do que as especiarias das Índias. 

O recado de Colombo foi claro: era melhor D. João II não subestimar nada, pois o tiro de desviar os espanhóis da rota das Índias poderia sair pela culatra. Se estivesse vivo em 1545, quando os espanhóis conquistaram as minas de prata de Potosí, certamente D. João II teria se arrependido amargamente de não ter dado ouvidos aos conselhos do seu agente secreto.