União Sul-Africana e o Império Etíope (c. 1910-1974)

192
Uniao Sul Africana e o Imperio Etiope c. 1910 1974

A história da União Sul-Africana e do Império Etíope entre 1910 e 1974 é marcada por transformações políticas, sociais e econômicas profundas. Esses dois estados africanos tiveram trajetórias distintas, mas ambos enfrentaram desafios significativos durante esse período. Este artigo explora os principais eventos e mudanças na União Sul-Africana e no Império Etíope, destacando suas respectivas lutas por identidade, independência e justiça social.

Contexto Histórico da União Sul-Africana

A União Sul-Africana foi formada em 1910, unindo as colônias britânicas do Cabo, Natal, Transvaal e Orange River. Este novo estado foi criado no contexto de uma complexa história de colonização, conflitos entre bôeres e britânicos, e tensões raciais. A política e a economia da União Sul-Africana foram fortemente influenciadas por estas dinâmicas coloniais.

Formação da União Sul-Africana (1910)

A formação da União Sul-Africana em 1910 foi um marco importante na história da África do Sul. A união das quatro colônias sob um único governo estabeleceu as bases para a futura República da África do Sul. No entanto, a nova união foi fundada em princípios de segregação racial e exclusão política dos africanos nativos, criando tensões que perdurariam por décadas.

Política Racial e Apartheid

O apartheid, um sistema de segregação racial institucionalizado, foi implementado formalmente em 1948 pelo Partido Nacional, embora as políticas racistas já estivessem em prática há décadas. Sob o apartheid, os sul-africanos negros, asiáticos e mestiços foram sistematicamente discriminados e segregados em todos os aspectos da vida, incluindo habitação, educação e emprego.

Impacto das Guerras Mundiais

As Guerras Mundiais tiveram um impacto significativo na União Sul-Africana. Na Primeira Guerra Mundial, a África do Sul lutou ao lado dos Aliados, o que fortaleceu sua posição no cenário internacional. Durante a Segunda Guerra Mundial, a participação sul-africana também foi ao lado dos Aliados, mas internamente as tensões raciais e políticas aumentaram, preparando o terreno para o estabelecimento do apartheid.

Movimento Nacionalista Africano

O movimento nacionalista africano começou a ganhar força na década de 1940, com a formação de organizações como o Congresso Nacional Africano (ANC). Lideranças como Nelson Mandela e Oliver Tambo emergiram como figuras centrais na luta contra o apartheid, organizando protestos, greves e campanhas de desobediência civil.

Liderança de Nelson Mandela

Nelson Mandela tornou-se um símbolo da resistência ao apartheid. Preso em 1962, ele passou 27 anos na prisão, durante os quais sua figura se tornou um ícone global da luta pela liberdade e igualdade. Sua liberação em 1990 marcou o início do fim do apartheid e a transição para a democracia na África do Sul.

A Luta Contra o Apartheid

A luta contra o apartheid foi marcada por décadas de resistência, repressão e violência. O ANC e outros movimentos de libertação organizaram campanhas internas e ganharam apoio internacional. Sanções econômicas e pressões diplomáticas ajudaram a enfraquecer o regime do apartheid, culminando nas negociações que levaram às primeiras eleições multirraciais em 1994.

Transformações Econômicas na África do Sul

A economia da África do Sul passou por várias transformações durante este período. A descoberta de minas de ouro e diamantes no final do século XIX levou ao desenvolvimento de uma economia baseada na mineração, mas também aprofundou as desigualdades raciais. Durante o apartheid, a economia foi moldada por políticas que favoreciam a minoria branca, enquanto marginalizavam a maioria negra.

A Transição para a Democracia (1994)

A transição para a democracia em 1994 foi um marco histórico, com a eleição de Nelson Mandela como o primeiro presidente negro da África do Sul. Este período viu a implementação de uma nova constituição que garantia direitos iguais a todos os cidadãos e buscava reparar as injustiças do passado através de políticas de ação afirmativa e reconciliação nacional.

Contexto Histórico do Império Etíope

O Império Etíope, com uma história que remonta à antiguidade, foi um dos poucos estados africanos a manter sua independência durante a era colonial. Sob a liderança de imperadores como Menelik II e Haile Selassie, a Etiópia passou por períodos de modernização e resistência à dominação estrangeira.

A Regência de Menelik II e a Modernização

Menelik II, que reinou de 1889 a 1913, é conhecido por suas reformas de modernização e por liderar a Etiópia na vitória contra a invasão italiana na Batalha de Adwa em 1896. Sob seu governo, a Etiópia modernizou suas forças armadas, infraestrutura e administração, fortalecendo sua posição como um estado soberano.

A Invasão Italiana e a Resistência Etíope (1935-1941)

Em 1935, a Itália fascista de Mussolini invadiu a Etiópia, resultando em uma brutal ocupação. O imperador Haile Selassie foi forçado ao exílio, mas a resistência etíope continuou. A ocupação italiana terminou em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, quando as forças aliadas ajudaram a libertar a Etiópia e restaurar Haile Selassie ao trono.

Haile Selassie e a Liga das Nações

Haile Selassie tornou-se uma figura internacionalmente reconhecida por seu apelo à Liga das Nações em 1936, denunciando a agressão italiana e pedindo apoio global. Embora a Liga tenha falhado em deter a invasão, o discurso de Haile Selassie destacou a hipocrisia do sistema internacional e galvanizou o movimento anticolonialista.

A Segunda Guerra Mundial e a Libertação da Etiópia

A libertação da Etiópia em 1941 marcou o fim da ocupação italiana. A Segunda Guerra Mundial trouxe mudanças significativas para a política global, e a vitória aliada reforçou a posição da Etiópia como um estado independente. Haile Selassie continuou a modernizar o país e a promover o desenvolvimento econômico e social.

Reformas de Haile Selassie

Durante seu reinado pós-guerra, Haile Selassie implementou várias reformas para modernizar a Etiópia, incluindo a centralização do poder, a reforma agrária e a promoção da educação. No entanto, a resistência interna e as desigualdades socioeconômicas persistiram, levando a tensões políticas crescentes.

A Revolução Etíope (1974)

Em 1974, a crescente insatisfação com o governo de Haile Selassie culminou em uma revolução liderada pelo Derg, um grupo de oficiais militares. Haile Selassie foi deposto, e a monarquia foi abolida. O Derg, liderado por Mengistu Haile Mariam, estabeleceu um regime marxista-leninista, resultando na criação da República Democrática Popular da Etiópia em 1987.

A República Democrática Popular da Etiópia foi proclamada em 1987, estabelecendo um estado socialista sob o controle do Derg. O novo regime enfrentou desafios significativos, incluindo guerra civil, fome e isolamento internacional. A política do governo do Derg levou a repressões e abusos de direitos humanos generalizados.

Impactos Econômicos e Sociais na Etiópia

As décadas de conflito e as políticas do Derg tiveram impactos devastadores na economia e na sociedade etíope. A guerra civil e as campanhas militares, como a brutal repressão contra insurgências em Tigray e Eritreia, resultaram em deslocamentos massivos e crises humanitárias. A fome nos anos 1980, exacerbada por políticas governamentais e conflitos, atraiu a atenção global para a crise etíope.

Relações Internacionais e Diplomacia

Tanto a União Sul-Africana quanto o Império Etíope tiveram papéis significativos nas relações internacionais. A África do Sul, sob o apartheid, enfrentou sanções internacionais e isolamento diplomático, enquanto a Etiópia, sob Haile Selassie, foi um membro ativo da Liga das Nações e, mais tarde, das Nações Unidas. A posição diplomática da Etiópia foi reforçada pela criação da Organização da Unidade Africana (OUA) em 1963, com sede em Adis Abeba.

Legado da União Sul-Africana e do Império Etíope

O legado da União Sul-Africana e do Império Etíope é complexo e multifacetado. A África do Sul, após a queda do apartheid, emergiu como uma democracia multirracial, enfrentando desafios de reconciliação e desenvolvimento. A Etiópia, após a queda do regime do Derg em 1991, passou por uma transição para um governo federal e enfrentou desafios contínuos de estabilidade política e desenvolvimento econômico.

Perguntas frequentes

Quais foram as principais causas do apartheid na União Sul-Africana?

As principais causas incluíram uma longa história de colonização e segregação racial, políticas racistas dos governos coloniais e a ideologia do Partido Nacional que implementou o apartheid em 1948.

Quem foi Haile Selassie e qual foi seu impacto no Império Etíope?

Haile Selassie foi o imperador da Etiópia de 1930 a 1974, conhecido por suas reformas de modernização e seu papel na resistência contra a invasão italiana. Ele também foi uma figura importante nas relações internacionais, promovendo a independência africana e a cooperação internacional.

Como a União Sul-Africana se transformou após o fim do apartheid?

Após o fim do apartheid em 1994, a África do Sul adotou uma nova constituição que garantiu direitos iguais a todos os cidadãos e implementou políticas de ação afirmativa para reparar as injustiças do passado. Nelson Mandela tornou-se o primeiro presidente negro da África do Sul.

O que levou à revolução de 1974 na Etiópia?

A revolução de 1974 foi causada por uma combinação de fatores, incluindo insatisfação popular com as políticas de Haile Selassie, desigualdades socioeconômicas e influências de movimentos marxistas-leninistas. A revolução resultou na deposição de Haile Selassie e no estabelecimento do regime do Derg.

Quais foram os impactos da fome na Etiópia durante os anos 1980?

A fome na Etiópia nos anos 1980 teve impactos devastadores, resultando em centenas de milhares de mortes e deslocamentos massivos. A crise foi exacerbada por políticas governamentais e conflitos internos, atraindo a atenção e a ajuda humanitária internacional.

Como a Etiópia evoluiu após a queda do regime do Derg?

Após a queda do regime do Derg em 1991, a Etiópia passou por uma transição para um governo federal democrático. No entanto, o país continua a enfrentar desafios de estabilidade política, conflitos regionais e desenvolvimento econômico.

A história da União Sul-Africana e do Império Etíope entre 1910 e 1974 é marcada por transformações profundas e desafios significativos. Ambos os estados passaram por períodos de modernização, resistência e mudanças políticas drásticas. A luta contra o apartheid na África do Sul e a resistência à dominação estrangeira e à ditadura na Etiópia deixaram legados duradouros que continuam a moldar suas trajetórias nacionais. Compreender esses eventos é essencial para apreciar as complexidades da história africana e as conquistas e desafios contínuos dessas nações.