Explore a história fascinante do Império Safávida, uma das maiores potências da Idade Moderna que transformou a Pérsia numa superpotência cultural, religiosa e militar. De Ismail I a Abbas I, o Grande, descubra como este império moldou o Médio Oriente até aos dias de hoje.

O Império Safávida (1501–1736) representa um dos capítulos mais brilhantes e menos conhecidos da história mundial. Num período em que Portugal descobria o caminho marítimo para a Índia, os espanhóis conquistavam os civilização asteca e os otomanos dominavam o Mediterrâneo oriental, na Pérsia nascia um novo império que iria mudar para sempre a identidade iraniana.

Origens: Da Ordem Sufi ao Estado Teocrático

Tudo começou com uma irmandade mística sufista fundada no século XIII em Ardabil por Safī al-Dīn (1252–1334). A Ordem Safávida era inicialmente sunita e seguia a tariqa (caminho espiritual) normal. Mas, no século XV, sob Junayd e Haydar, a ordem radicalizou-se, adotou o xiismo duodecimano e transformou-se numa força militar. Os membros usavam o turbante vermelho com doze gumes em honra dos doze imãs – daí o nome Qizilbash (“cabeças vermelhas”).

Em 1501, com apenas 14 anos, Ismail I (r. 1501–1524) marchou sobre Tabriz e proclamou-se Xá. A sua primeira medida foi declarar o **xiismo duodecimano religião oficial do Estado – um ato revolucionário que diferenciou para sempre a Pérsia dos vizinhos sunitas Império Otomano e uzbeques. Quem quisesse manter-se sunita era convidado a converter-se… ou a enfrentar a espada. Assim nasceu o primeiro Estado xiita da história desde o Califado Fatímida.

Se quiser aprofundar as raízes religiosas, recomendo a leitura sobre O Califado Fatímida e O Califado Abássida.

A Batalha de Chaldiran (1514): O Primeiro Grande Choque

Os otomanos, liderados por Selim I “o Severo”, não aceitaram bem a conversão forçada da Anatólia oriental ao xiismo. Em 1514, os dois exércitos encontraram-se em Chaldiran. Apesar da coragem fanática dos Qizilbash, a artilharia otomana dizimou a cavalaria persa. Ismail quase morreu e Tabriz foi ameaçada.

Chaldiran marcou os limites da expansão safávida para oeste, mas também consolidou o xiismo dentro das fronteiras. Ismail, traumatizado, nunca mais liderou pessoalmente um exército e entregou-se ao vinho e à poesia (escrevia sob o pseudónimo Khataʾi). Morreu com apenas 36 anos, deixando um império instável ao filho Tahmasp I (r. 1524–1576).

Tahmasp I e a Consolidação

Tahmasp transferiu a capital para Qazvin e dedicou-se a sobreviver entre uzbeques a leste e otomanos a oeste. Foi durante o seu longo reinado que os primeiros embaixadores europeus (portugueses, ingleses e venezianos) começaram a chegar à corte persa, fascinados pelos tapetes, miniaturas que hoje encham museus.

O Apogeu: Shah Abbas I, o Grande (1588–1629)

Se há um nome que brilha na história safávida, é Abbas I. Coroado aos 16 anos num palácio cheio de intrigas, Abbas mostrou-se um génio político e militar.

Reformas que mudaram a Pérsia

  • Criou um exército permanente de ghulams (escravos convertidos, muitos georgianos arménios) para contrabalançar o poder tribal dos Qizilbash.
  • Transferiu a capital para Isfahan em 1598, construindo uma das cidades mais belas da história: a praça Naqsh-e Jahan (segunda maior do mundo na época), a Mesquita do Xá, a Mesquita do Xeique Lotfollah e o palácio Ali Qapu.
  • Promoveu o comércio com a Europa através da Companhia Inglesa das Índias Orientais e dos irmãos Sherley.
  • Recuperou territórios perdidos: expulsou os uzbeques do Khorasan e tomou Bagdad e o Bahrain aos otomanos (embora tenha perdido Bagdad novamente em 1638).

Visite a página Expansão Comercial e Marítima c. 1500-1700 para entender o contexto global em que Abbas inseriu a Pérsia.

Isfahan tornou-se tão magnífica que nasceu o ditado persa: “Isfahan nesf-e jahan” – “Isfahan é metade do mundo”.

Cultura e Arte Safávida: O Renascimento Persa

O período safávida é considerado a idade de ouro da arte persa moderna. Alguns destaques:

  • Miniaturas – Reza Abbasi e a escola de Isfahan levaram a pintura persa ao auge.
  • Tapetes – Os famosos tapetes de seda de Kashan e Kerman ainda hoje são referência mundial.
  • Arquitetura – Cúpulas de dupla camada, iwan gigantes, azulejos de sete cores.
  • Ciência e filosofia – Mulla Sadra (Sadr al-Din al-Shirazi) fundou a escola transcendental de filosofia islâmica ainda estudada nas hawzas do Irão e do Iraque.

Se gosta de arte, veja também como o Renascimento europeu aconteceu em paralelo.

Declínio: Dos Últimos Xás à Invasão Afegã

Após Abbas I, o império entrou em decadência lenta. Shah Safi (1629–1642), Shah Abbas II (1642–1666) e Shah Suleiman (1666–1694) mantiveram o esplendor, mas Sultan Husayn (1694–1722) foi um governante fraco e supersticioso.

Em 1722, uma tribo afegã ghi lzai liderada por Mahmud Hotaki cercou Isfahan após oito meses de resistência heróica. A cidade caiu, o xá foi deposto e massacrado em 1725. Peter o Grande da Rússia e o Império Otomano aproveitaram para invadir territórios persas.

O Renascimento com Nader Shah (1736–1747)

Embora o período safávida termine formalmente em 1736 com a coroação de Nader (da dinastia Afshárida), vale mencionar que este genial militar turcomeno restaurou as fronteiras persas, derrotou os afegãos, invadiu a Índia em 1739 e trouxe o lendário Trono do Pavão e o diamante Koh-i-Noor. Mas isso já é outra história…

Legado do Império Safávida

  1. Identidade iraniana moderna – O xiismo duodecimano continua a religião oficial do Irão atual.
  2. Fronteiras – As fronteiras aproximadas do Império Safávida são quase as mesmas do Irão de hoje.
  3. Arte – Isfahan continua Património Mundial da UNESCO e inspiração eterna.
  4. Língua e literatura – O persa clássico floresceu e influenciou o urdu, o turco otomano e até o mogol indiano.

Perguntas Frequentes

Qual a diferença entre safávidas, aqueménidas e partas?
Os Aqueménidas (550–330 a.C.), Partas (247 a.C.–224 d.C.) e Sassanidas eram impérios zoroastristas ou pré-islâmicos. Os safávidas foram o primeiro grande império persa islâmico e xiita.

Os safávidas eram turcos ou persas?
A dinastia era de origem mista (turcomena, curda, georgiana e persa), mas adotou completamente a cultura e a língua persa como idioma oficial.

Porque é que o xiismo se tornou dominante no Irão e não noutros sítios?
Conversão forçada de Ismail I + identidade nacional contra otomanos sunitas + apoio dos ulemás xiitas do Líbano (Jabal Amil) que migraram para a Pérsia.

Qual foi o maior inimigo dos safávidas?
Sem dúvida o Império Otomano. As guerras otomano-safávidas duraram mais de 200 anos e definiram a fronteira Turquia-Irão atual.

Ainda existem descendentes dos xás safávidas?
Sim, várias famílias no Irão reclamam descendência, mas a linha direta extinguiu-se no século XVIII.

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Nos vemos no próximo artigo – talvez sobre o Império Mogol ou o Império Timúrida que o precedeu.

Até lá, continue curioso!
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