“A minha época chegará.”
– Gregor Johann Mendel (1822-1884)
Ele nunca imaginou que um pequeno jardim de ervilhas, num mosteiro perdido na Morávia, mudaria para sempre a forma como entendemos a vida. Hoje, no Canal Fez História, mergulhamos na trajetória fascinante de Gregor Mendel, o pai da genética, e mostramos porque, mais de 150 anos depois, ele continua a ser uma das figuras mais revolucionárias da ciência.
Uma Infância entre Campos e Livros
Johann Mendel nasceu a 20 de julho de 1822 em Heinzendorf, uma aldeia então pertencente ao Império Austríaco (atual Hynčice, República Checa). Filho de camponeses, cresceu rodeado de pomares e hortas. Desde cedo demonstrou curiosidade insaciável pela natureza – observava abelhas, media o crescimento das plantas e anotava tudo.
Aos 21 anos, para escapar à pobreza e continuar os estudos, ingressou no Mosteiro Agostiniano de São Tomás, em Brno, tomando o nome de Gregor. Ali encontrou não só paz espiritual, mas também uma biblioteca rica e tempo livre para investigar. Como ele próprio escreveu:
“O mosteiro deu-me o que o mundo me negava: tempo para pensar.”
O Jardim que Revolucionou o Mundo
Entre 1856 e 1863, Mendel cultivou cerca de 29 mil plantas de ervilha (Pisum sativum) num terreno de apenas 35 × 7 metros. Escolheu a ervilha por razões geniais:
- Ciclo de vida curto
- Características facilmente observáveis (cor da flor, forma da vagem, altura da planta, etc.)
- Autopolinização natural (facilitava o controlo dos cruzamentos)
Durante oito anos, cruzou manualmente milhares de plantas, contando meticulosamente cada descendente. Registou mais de 300 mil ervilhas individualmente. O resultado? Descobriu padrões matemáticos que ninguém antes tinha visto.
As Três Leis de Mendel (1865-1866)
- Lei da Segregação – Cada característica é determinada por dois fatores (hoje chamados alelos) que se separam na formação dos gametas.
- Lei da Independência dos Caracteres – Diferentes características são herdadas independentemente umas das outras (exceto quando estão no mesmo cromossoma).
- Lei da Dominância – Num par de alelos, um pode mascarar o outro (dominante vs recessivo).
Publicou os resultados em 1866 na revista da Sociedade de História Natural de Brno sob o título “Experiências sobre Hibridização de Plantas”. Passou completamente despercebido.
O Esquecimento de 35 Anos
Durante décadas, ninguém deu importância ao trabalho. Mendel morreu em 6 de janeiro de 1884, aos 61 anos, de doença renal crónica, acreditando que a sua obra havia sido em vão. Chegou a queimar parte dos seus papéis, desiludido.
Só em 1900 – 16 anos após a sua morte e 34 anos depois da publicação – três botânicos (Hugo de Vries, Carl Correns e Erich von Tschermak) redescobriram simultaneamente as leis de Mendel. A genética nasceu oficialmente nesse ano, que ficou conhecido como annus mirabilis da biologia.
Mendel e o Contexto Histórico Mais Amplo
A vida de Mendel coincide com um século de transformações brutais:
- A Revolução Industrial (c. 1760-1840) estava no auge quando ele nasceu.
- Charles Darwin publicou A Origem das Espécies em 1859 – exatamente quando Mendel começava os seus experimentos.
- O Iluminismo (c. 1715-1789) e o positivismo de Auguste Comte incentivavam a observação rigorosa da natureza.
- A Era Vitoriana e o Império Britânico (1837-1901) valorizava a ciência prática e os melhoramentos agrícolas.
Mendel, sem saber, estava a preencher a maior lacuna da teoria de Darwin: como é que as características são transmitidas de geração em geração?
Por Que Demorou Tanto a Ser Reconhecido?
- Publicou numa revista local de pequena circulação
- Usou matemática (estatística) – algo raro na biologia da época
- Não tinha contatos nas grandes universidades europeias
- A comunidade científica estava obcecada com a evolução, não com os mecanismos de hereditariedade
Como disse o próprio Mendel numa carta ao botânico Carl Nägeli (o único cientista com quem trocou correspondência):
“Peço-lhe que não pense que subestimo a dificuldade de esclarecer este problema, o mais difícil da biologia.”
Mendel e Outros Gigantes da Ciência
| Nome | Área | Contemporâneo de Mendel? | Link no Canal Fez História |
|---|---|---|---|
| Charles Darwin | Evolução | Sim (1809-1882) | Ver artigo |
| Louis Pasteur | Microbiologia | Sim (1822-1895) | Ver artigo |
| James Clerk Maxwell | Física | Sim (1831-1879) | Ver artigo |
| Dmitri Mendeleiev (tabela periódica) | Química | Sim (1834-1907) | Em breve! |
| Isaac Newton | Física/Matemática | Não (1643-1727) | Ver artigo |
| Albert Einstein | Física relativística | Não (1879-1955) | Ver artigo |
O Legado Vivo de Mendel
Hoje, cada teste de ADN, cada terapia genética, cada melhoramento de culturas agrícolas deve algo a um monge que contava ervilhas num jardim de mosteiro.
- A síndrome de Down, a fibrose quística, a anemia falciforme – todas são explicadas pelas leis de Mendel.
- A agricultura moderna (milho, trigo, soja) deve 70-80% do aumento de produtividade ao uso consciente da genética mendeliana.
- O próprio conceito de “gene” só foi cunhado em 1909 por Wilhelm Johannsen, diretamente inspirado em Mendel.
Perguntas Frequentes sobre Gregor Mendel
Mendel era mesmo monge ou só usava o hábito para ter acesso ao jardim?
Era monge agostiniano ordenado. Tornou-se padre em 1847 e chegou a ser abade do mosteiro entre 1868 e 1884.
As ervilhas ainda existem?
Sim! Algumas das linhagens originais são mantidas no Museu Mendel, em Brno, e ainda são usadas em aulas de genética.
Mendel sabia da existência dos cromossomas?
Não. A redescoberta dos seus trabalhos coincidiu com a redescoberta das leis de divisão celular de Walther Flemming (1882). A síntese entre Mendel e a citologia só ocorreu em 1910-1915 (Teoria Cromossómica da Herança – Thomas Hunt Morgan).
Por que ele escolheu sete características e não mais?
Porque eram claramente monogenéticas (controladas por um único gene) e não apresentavam ligação (hoje sabemos que estavam em cromossomas diferentes).
Mendel acreditava em evolução?
Sim. Era darwinista convicto e tentou (sem sucesso) encontrar nas abelhas um sistema hereditário semelhante ao das ervilhas.
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Porque a história não é só sobre reis e guerras – às vezes, a maior revolução acontece num pequeno jardim de ervilhas.
Gregor Mendel provou que as maiores descobertas nascem da paciência, da curiosidade e de um bom caderno de anotações.
Obrigado por ler até ao fim.
Nos vemos no próximo artigo!
















