“Eu não nasci para ser czar. Nasci para mudar a Rússia.”
Explore a vida do homem que transformou um principado atrasado num império temido pela Europa inteira: Pedro I da Rússia.

Introdução: Um Gigante de 2,03 m que Quebrou Todas as Regras

Em 1682, nascia em Moscovo um menino que viria a medir mais de dois metros, a falar sete línguas, a construir uma marinha do zero e a cortar com as próprias mãos as barbas dos boiardos. Pedro Alexeievitch Romanov, mais conhecido como Pedro o Grande, foi o czar que literalmente arrastou a Rússia para o século XVIII, chutando portas, quebrando tradições milenares e criando a cidade mais bela da Europa: São Petersburgo.

Neste artigo vamos percorrer toda a sua vida — desde as conspirações palacianas da infância até à morte exausta em 1725 — e entender por que ele é, até hoje, o personagem mais fascinante da ascensão da Rússia (c. 1682-1917).

Infância e a Revolta dos Streltsy: Quando Pedro Aprendeu a Temer e a Odiar

Pedro nasceu a 9 de junho de 1672, filho do czar Aleixo I e da segunda esposa, Natália Naryshkina. Quando o pai morreu em 1676, o meio-irmão mais velho, Fiódor III, subiu ao trono. Mas Fiódor era doente e morreu em 1682, desencadeando uma das crises sucessórias mais sangrentas da história russa.

Os boiardos dividiram-se entre o débil Ivan V (filho da primeira esposa de Aleixo) e o pequeno Pedro. A princesa Sofia, irmã de Ivan, manipulou os Streltsy — o corpo militar de elite de Moscovo — para um golpe. Em maio de 1682, os Streltsy invadiram o Kremlin. Pedro, com apenas 10 anos, viu parentes e tutores serem despedaçados à sua frente. O horror ficou-lhe gravado para sempre.

Resultado: Ivan V e Pedro foram declarados co-czares, mas Sofia governava como regente. Pedro foi afastado para a aldeia de Preobrazhenskoye, onde começou a brincar… à guerra. Criou dois “batalhões de brinquedo” — os futuros regimentos Preobrazhensky e Semionovsky — com rapazes da aldeia e filhos de nobres. Mal sabia ele que esses jogos se tornariam o núcleo do futuro exército moderno russo.

A Tomada do Poder: 1689, o Ano em que Pedro Deixou de Ser Criança

Em 1689, com 17 anos e já com 2 metros de altura, Pedro casou-se com Eudóxia Lopukhina (casamento infeliz que acabaria em repúdio). Sofia tentou novo golpe. Pedro fugiu de madrugada para o mosteiro de Tróitsa-Sérguiev e convocou os regimentos leais. Pela primeira vez na vida, os Streltsy escolheram o lado do jovem gigante. Sofia foi encerrada num convento e Ivan V, doente, aceitou ser apenas co-czar nominal.

Pedro tinha 17 anos e o poder absoluto nas mãos. Mas, curiosamente, não quis governar ainda. Entregou a administração à mãe e aos Naryshkin e… foi brincar aos barcos no lago Plescheievo. Era a sua grande paixão: a marinha.

A Grande Embaixada (1697-1698): Quando o Czar Virou Carpinteiro na Holanda

Em 1697, Pedro fez algo nunca visto: saiu disfarçado da Rússia com uma embaixada de 250 pessoas para aprender como funcionava a Europa ocidental. Usava o nome de “Pedro Mikhailov” e trabalhou como carpinteiro nos estaleiros de Saardam (Holanda) e Deptford (Inglaterra). Aprendeu a construir navios, a fundir canhões, a fazer cirurgias dentárias, a gravar cobre… Voltou com mais de 700 especialistas estrangeiros: engenheiros, oficiais navais, médicos, artesãos.

Enquanto estava fora, os Streltsy revoltaram-se novamente. Pedro voltou a galope, prendeu 2000 rebeldes e mandou executar mais de 1000 — muitos com as próprias mãos, para horror dos embaixadores europeus. Foi o fim definitivo dos Streltsy.

A Guerra do Norte (1700-1721): O Nascimento do Império Russo

O grande sonho de Pedro era uma saída para o mar Báltico. Em 1700 aliou-se à Dinamarca e à Saxónia contra o jovem génio militar Carlos XII da Suécia. O início foi desastroso: derrota humilhante em Narva (1700), onde 8000 russos enfrentaram 40 000 suecos.

Mas Pedro aprendeu. Reformou o exército, criou fundições de canhões, recrutou camponeses em massa. Em 1709, na batalha de Poltava, destruiu completamente o exército de Carlos XII. Foi o momento em que a Rússia deixou de ser uma potência secundária e passou a ser temida.

Em 1721, o Tratado de Nystad deu à Rússia a Livónia, a Estónia, a Ingria e parte da Carélia. Pedro proclamou-se “Imperador de Todas as Rússias” — já não era apenas czar. Fundou São Petersburgo em 1703 num pântano conquistado aos suecos e, em 1712, tornou-a a nova capital, simbolizando a janela para a Europa.

Reformas Internas: A Revolução Cultural que Custou Milhares de Vidas

Pedro não se limitou à guerra. Queria mudar tudo:

  • Exército: aboliu os Streltsy, criou um exército permanente com recrutamento vitalício de camponeses.
  • Administração: substituiu as antigas ordens por 12 colégios (ministérios) inspirados na Suécia.
  • Igreja: em 1721 aboliu o patriarcado e criou o Santo Sínodo controlado pelo Estado (a Igreja tornou-se um departamento do governo).
  • Calendário: adotou o calendário juliano e mudou o ano novo de 1 de setembro para 1 de janeiro.
  • Barbas e caftans: obrigou os boiardos a rapar a barba e a usar roupas europeias. Quem insistisse pagava imposto anual pela barba!
  • Tabela de Postos (1722): criou uma hierarquia onde até nobres tinham de começar como oficiais subalternos se quisessem subir.

Para pagar tudo isto, aumentou brutalmente os impostos e introduziu o “imposto da alma” (capitação) sobre todos os homens adultos, exceto clero e nobreza.

São Petersburgo: A Cidade Construída Sobre Ossos

Entre 1703 e 1725, dezenas de milhares de servos morreram nos pântanos do rio Neva. Pedro queria a cidade mais bela da Europa — e conseguiu. Projetada por arquitetos italianos e franceses, com canais à semelhança de Amesterdão e palácios barrocos, São Petersburgo tornou-se o símbolo máximo da sua visão.

Vida Pessoal: Um Homem Apaixonado e Brutal

  • Casou-se pela segunda vez com uma camponesa lituana, Marta Skavronska, que se tornaria a imperatriz Catarina I.
  • Teve 11 filhos oficiais (apenas duas filhas sobreviveram à infância).
  • O caso mais trágico: o filho Alexis, do primeiro casamento, opôs-se às reformas. Pedro mandou julgá-lo por traição. Alexis morreu sob tortura em 1718. O czar chorou… mas não perdoou.

Morte e Legado

Em novembro de 1724, Pedro mergulhou no mar gelado do Golfo da Finlândia para salvar marinheiros de um naufrágio. Apanhou uma pneumonia e morreu a 8 de fevereiro de 1725, com apenas 52 anos, sem deixar testamento claro.

Deixou:

  • Um império com saída para dois mares (Báltico e, mais tarde, Negro)
  • Uma capital europeia
  • Um exército e marinha modernos
  • Uma nobreza obrigada a servir o Estado
  • Um trauma cultural que os russos ainda discutem hoje

Perguntas Frequentes

Pedro o Grande foi realmente “grande”?

Sim. Transformou um país atrasado, sem saída marítima e quase desconhecido na Europa, numa superpotência que viria a dominar o século XVIII.

Ele era louco ou génio?

As duas coisas. Sofria de convulsões (possivelmente epilepsia do lobo temporal), tinha explosões de raiva terríveis, bebia em excesso, mas era incrivelmente curioso, trabalhador e visionário.

Porque mudou a capital de Moscovo para São Petersburgo?

Moscovo representava a velha Rússia ortodoxa e asiática. São Petersburgo era a “janela para a Europa” — literalmente virada para oeste.

Pedro o Grande tem relação com o Brasil?

Indiretamente. As suas reformas inspiraram os déspotas esclarecidos europeus, incluindo o marquês de Pombal, que tentou fazer em Portugal (e no Brasil colónia) algo semelhante: modernizar a custo de autoritarismo.

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