De vassoura na mão a carta de renúncia: a trajetória meteórica e trágica do 22.º Presidente do Brasil

“Eu sou a força do destino que não se discute.”
— Jânio Quadros

Em apenas sete meses, Jânio Quadros conseguiu o impossível: elegeu-se com a maior votação proporcional da história brasileira até então, varreu o país com a promessa de moralização, proibiu biquínis, brigou com o Congresso, condecorou Che Guevara e, num golpe de teatro que ninguém entendeu, renunciou.
O Brasil ficou atônito. E continua tentando entender até hoje.

Quem foi Jânio Quadros? As origens do “homem da vassoura”

Jânio da Silva Quadros nasceu em Campo Grande (então Mato Grosso) em 25 de janeiro de 1917. Filho de médico, estudou no colégio Marista e formou-se em Direito em 1939. Antes mesmo de completar 30 anos já era vereador em São Paulo, deputado estadual, prefeito da capital e governador do estado — tudo com votações estrondosas.

A simbologia da vassoura nasceu na campanha para a prefeitura de São Paulo em 1953. Jânio prometia “varrer a corrupção” e, com um estilo excêntrico — ternos amarrotados, cabelo desgrenhado, sanduíches de mortadela no palanque —, conquistou a classe média cansada da política tradicional.

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A campanha presidencial de 1960: 5,6 milhões de votos

Em 1960, Jânio candidatou-se pela coligação UDN-PTN-PDC-PL, tendo como vice o pernambucano João Goulart (Jango), do PTB de Vargas. A chapa era chamada de “Jan-Jan” (Jânio-Jango). Ele venceu com 48% dos votos — a maior votação já registrada até então.

A campanha foi puro teatro:

  • proibiu rinhas de galo em comícios
  • usava uma capa preta em dias de chuva
  • distribuía sanduíches de queijo e mortadela para a imprensa
  • prometia acabar com a “farra dos marajás”

Os 7 meses que abalaram a República

Tomou posse em 31 de janeiro de 1961. Logo no primeiro dia editou o Decreto 50.001 proibindo o uso de biquíni e lança-perfume no carnaval. Seguiram-se medidas extravagantes:

  • Proibição de brigas de galo
  • Proibição de corridas de cavalo em dias úteis
  • Extinção do Instituto do Açúcar e do Álcool
  • Campanha contra o jogo do bicho
  • Criação da “Operação Pan-Americana”

Mas o grande choque veio na política externa: Jânio aproximou-se dos países não alinhados, restabeleceu relações com a União Soviética e, em agosto de 1961, condecorou Ernesto “Che” Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul. O gesto foi visto como provocação pelos militares e pela direita.

A carta de renúncia: 25 de agosto de 1961

Na manhã de sexta-feira, 25 de agosto, Jânio enviou ao Congresso a histórica carta:

“Fui vencido pela reação e, assim, deixo o governo. Nestes sete meses esgotei todas as possibilidades de entendimento com as forças que se opõem ao progresso do Brasil. Forças terríveis levantaram-se contra mim…”

Ninguém esperava. O vice João Goulart estava na China. Os ministros militares tentaram impedir a renúncia. Não conseguiram. Às 15h, Jânio embarcava para Santos e, depois, para a Europa.

As principais teorias sobre a renúncia

  1. Teoria do autogolpe – Jânio queria que o Congresso rejeitasse a renúncia para depois fechar o Legislativo (como Vargas em 1937).
  2. Pressão militar – Os ministros militares (Odylio Denys, Sílvio Heck e Gabriel Grün Moss) teriam forçado a saída.
  3. Problemas pessoais – Álcool, depressão e uso de medicamentos.
  4. Conflito com Carlos Lacerda – O governador da Guanabara acusou Jânio de planejar um golpe com apoio de Jango.

A verdade? Provavelmente uma mistura de tudo isso.

O que veio depois: a crise sucessória e o parlamentarismo

Com Jango na China, assumiu interinamente o presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli. Os militares vetaram a posse de Jango. Leonel Brizola liderou a Campanha da Legalidade no Rio Grande do Sul. No fim, aceitou-se um compromisso: Jango tomou posse em 7 de setembro de 1961, mas sob regime parlamentarista.

O legado de Jânio Quadros

  • Foi o presidente que mais rapidamente caiu na história republicana
  • Abriu caminho para a crise que culminaria no golpe de 1964
  • Deixou a imagem do “louco genial” ou do “gênio maluco” — depende de quem conta
  • Tentou voltar em 1985 (ficou em 6.º lugar) e em 1989 (nem foi ao 2.º turno)

Morreu em 16 de fevereiro de 1992, em São Paulo, aos 75 anos.

Presidentes que vieram antes e depois (cronologia rápida)

Perguntas Frequentes sobre Jânio Quadros

Por que Jânio renunciou depois de apenas 7 meses?

Não há consenso. A versão oficial fala em “forças terríveis”. Historiadores apontam para um misto de crise pessoal, alcoolismo, briga com Lacerda e tentativa frustrada de autogolpe.

Jânio era de direita ou de esquerda?

Era um conservador moralista com política externa terceiro-mundista. Não encaixa nos rótulos tradicionais — por isso confundiu todo mundo.

A condecoração de Che Guevara foi o estopim?

Foi a gota d’água para militares e setores conservadores, mas a crise já estava instalada.

Jânio realmente proibia biquíni e lança-perfume?

Sim. O decreto contra o lança-perfume foi revogado dias depois por pressão popular. O do biquíni nunca foi realmente fiscalizado.

Ele tentou voltar à presidência?

Sim, em 1985 (6.º lugar) e em 1989 (12.º lugar). Nunca mais repetiu o sucesso de 1960.

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Até o próximo artigo!
— Equipe Canal Fez História