“Eu vim para dar ouro ao rei e cristianismo aos índios. Se não me derem o ouro por bem, tomarei por mal.”
Uma frase que resume perfeitamente quem foi Francisco Pizarro, o homem que, com menos de 200 soldados, destruiu o Império Inca (c. 1438-1533) e mudou para sempre a história da América do Sul.
Origens Humildes na Extremadura
Francisco Pizarro González nasceu por volta de 1476 (ou 1478 – as fontes divergem) em Trujillo, Extremadura, Espanha. Filho ilegítimo de Gonzalo Pizarro Rodríguez de Aguilar, um militar de certa fama, e de Francisca González, uma mulher de origem humilde, o futuro conquistador passou a infância cuidando de porcos. Nunca aprendeu a ler nem a escrever corretamente – fato que o acompanharia toda a vida e que o tornava dependente de secretários.
A Extremadura era terra de homens duros, de poucos recursos e muitas ambições. Quando chegou a notícia da viagem de Cristóvão Colombo e da descoberta das Américas, Pizarro, já com quase 30 anos, decidiu atravessar o Atlântico em busca de fortuna. Chegou à Hispaniola em 1502 ou 1509 (novamente as datas oscilam) e participou das campanhas de Alonso de Ojeda e Diego de Nicuesa no Darién.
A Parceria Fatal: Pizarro, Almagro e Luque
A grande virada da sua vida aconteceu em 1524, quando, já no Panamá, associou-se a dois homens tão ambiciosos quanto ele:
- Diego de Almagro, soldado experiente e futuro rival mortal
- Hernando de Luque, clérigo que colocou o dinheiro da Igreja na empreitada
Os três firmaram o célebre “Contrato de partilha do Peru”, financiado em parte pelo próprio Luque e pelo juiz Espinosa. O objetivo era claro: descer a costa ocidental da América do Sul em busca do lendário Birú ou Pirú, nome que os indígenas davam ao seu império rico em ouro.
Foram três expedições:
- 1524-1525 – Desastrosa. Chegaram só até a Colômbia atual.
- 1526-1528 – A famosa viagem do piloto Bartolomé Ruiz, que cruzou a linha do Equador e encontrou uma jangada inca cheia de tecidos, ouro e esmeraldas. Prova viva de que valia a pena continuar.
- 1529-1531 – Pizarro volta à Espanha, é recebido por Carlos V em Toledo e recebe o título de Governador e Capitão-Geral das terras que conquistasse. Almagro, que ficou no Panamá, foi nomeado apenas “Governador de Tumbes”. A semente da discórdia estava plantada.
Cajamarca: O Dia em que o Mundo Inca Acabou
Em 1532, com apenas 168 homens (106 infantes e 62 cavaleiros), Pizarro desembarcou em Tumbes e começou a marcha para o interior. O Império Inca vivia uma guerra civil entre os irmãos Atahualpa e Huáscar. Atahualpa havia acabado de vencer em Quito e estava em Cajamarca descansando com um exército de cerca de 40 a 80 mil homens… desarmados para a cerimónia de receção ao “emissário do deus Viracocha”.
No dia 16 de novembro de 1532, aconteceu uma das maiores emboscadas da história:
- Atahualpa chegou numa liteira de ouro carregada por 80 lordes.
- Frei Vicente de Valverde leu o Requerimiento (aquele texto absurdo que dava aos índios 5 minutos para se converterem ou serem mortos).
- Atahualpa jogou o livro no chão.
- Pizarro deu o sinal.
- Em menos de duas horas, os espanhóis mataram entre 2.000 e 7.000 incas sem sofrer uma única baixa.
Atahualpa foi feito prisioneiro. Para obter a liberdade, ofereceu encher um quarto de ouro e dois de prata. Foi o famoso Resgate de Atahualpa – o maior da história: cerca de 6.000 kg de ouro e 12.000 kg de prata.
Mesmo depois de receber tudo, Pizarro mandou executá-lo por estrangulamento em 26 de julho de 1533. O Império Inca ficou sem cabeça.
A Marcha para Cusco e a Fundação de Lima
Com o ouro do resgate, Pizarro fundou a cidade de San Miguel de Piura (primeira cidade espanhola no Peru) e marchou para Cusco, a capital sagrada dos incas. Chegou em 15 de novembro de 1533 e saqueou o Coricancha, o templo do Sol coberto de lâminas de ouro.
Em 18 de janeiro de 1535 fundou a Ciudad de los Reyes (Lima), que se tornaria a capital do Vice-Reino do Peru, o mais rico de toda a América espanhola.
A Guerra Civil entre os Conquistadores
O sucesso trouxe inveja. Diego de Almagro, que tinha ido conquistar o Chile (e encontrou apenas deserto e indígenas hostis), voltou furioso ao saber que Pizarro ficara com Cusco. Seguiu-se uma guerra fratricida:
- Batalha de Las Salinas (1538) – Vitória de Pizarro. Almagro foi garroteado.
- Os “homens do Chile” juraram vingança.
- Em 26 de junho de 1541, um grupo de 20 almagristas invadiu o palácio de Pizarro em Lima. Francisco lutou com a espada na mão, mas foi esfaqueado até a morte. Conta-se que, ao cair, desenhou uma cruz com o próprio sangue e beijou-a.
Tinha cerca de 65 anos.
Legado: Herói ou Vilão?
Para os espanhóis da época, Pizarro foi um dos maiores capitães da história, comparável a Hernán Cortés. Para os povos andinos, foi o demónio que acabou com a civilização mais avançada da América pré-colombiana.
Factos que impressionam até hoje:
- Conquistou um império de 10 milhões de pessoas com menos homens do que os que cabem num autocarro.
- As minas de Potosí (1545), descobertas pouco depois, enviaram tanta prata para a Espanha que alteraram a economia mundial.
- A destruição da cultura inca foi tão completa que ainda hoje debatemos se o quipo (sistema de cordas) era ou não uma escrita.
Perguntas Frequentes sobre Francisco Pizarro
Era parente de Hernán Cortés?
Não. Apesar do apelido parecido, não tinham parentesco. Eram apenas dois extremenhos pobres que sonharam grande.
Quantos irmãos Pizarro havia?
Quatro famosos: Francisco, Gonzalo, Hernando e Juan. Todos participaram da conquista do Peru. Todos tiveram mortes violentas, exceto Hernando, que morreu rico na Espanha.
O que aconteceu com o ouro de Atahualpa?
Foi fundido em barras, enviado a Espanha (quinto real pago), e o resto dividiu-se entre os 168. Um cavaleiro comum recebeu cerca de 90 kg de ouro e 180 kg de prata – fortuna de milhões de euros atuais.
Pizarro foi mesmo analfabeto?
Sim. Assinava com um rabisco. Quem escrevia as suas cartas era o secretário Francisco de Jerez, autor da célebre “Verdadera relación de la conquista del Perú”.
Existe descendência direta?
Sim. Através de sua filha com a princesa inca Quispe Sisa (batizada Francisca Pizarro Yupanqui), que casou com o tio Hernando. Os marqueses de la Conquista, na Espanha, descendem deles até hoje.
Quer Saber Mais Sobre a Conquista Espanhola?
Se este artigo despertou a tua curiosidade, recomendo que continues a explorar o Canal Fez História:
- Civilização Inca (c. 1438-1533)
- Civilização Asteca (c. 1345-1521)
- Hernán Cortés
- Descoberta das Américas e Mercantilismo (c. 1492-1750)
- 1545 – As Minas de Potosí
E se gostas de vídeos longos, narrados com calma e imagens incríveis, subscreve o canal no YouTube:
➜ youtube.com/@canalfezhistoria
No Instagram publicamos todos os dias mapas, documentos e curiosidades:
➜ instagram.com/canalfezhistoria
E no Pinterest tens centenas de infográficos para guardar:
➜ br.pinterest.com/canalfezhistoria
A história não acaba aqui. Continua connosco.
Porque quem conhece o passado, compreende o presente.
















