“Eu sou Ciro, rei do mundo, grande rei, rei legítimo, rei da Babilónia, rei da Suméria e Acádia, rei das quatro bordas do mundo.”
— Inscrição no Cilindro de Ciro, hoje no British Museum

Ciro II da Pérsia, conhecido na história como Ciro, o Grande (c. 600–530 a.C.), foi o fundador do Império Aquemênida (c. 550-330 a.C.), o maior império que o mundo antigo já tinha visto até então. Em pouco mais de 30 anos, ele transformou um pequeno reino montanhoso no planalto iraniano numa superpotência que se estendia do Indo ao Egeu, da Ásia Central ao Egito. E fê-lo, pasme-se, sendo lembrado até pelos povos conquistados como um governante justo e tolerante – algo raríssimo na Antiguidade.

Quem foi realmente Ciro II?

Origens: entre a lenda e a história

A vida de Ciro está envolta em névoa lendária. Heródoto, o “pai da História”, conta que Astíages, rei dos medos, sonhou que a filha Mandane daria à luz uma videira que cobriria toda a Ásia. Para evitar a profecia, casou-a com um persa de baixa estirpe – Cambises I – e, quando nasceu o neto Ciro, ordenou que o matassem. O bebé foi salvo e criado por pastores. Anos depois, revelou-se e derrubou o avô.

Embora a história tenha sabor de conto de fadas, o essencial é verdadeiro: Ciro era filho de Cambises I, rei vassallo dos medos, e pertencia ao clã aquemênida da tribo persa dos pasárgadas.

A revolta contra os medos (553–550 a.C.)

Em 553 a.C., Ciro rebelou-se contra Astíages. A guerra durou três anos. Conta-se que parte do exército medo desertou para o lado persa (talvez por causa da crueldade de Astíages). A capital meda, Ecbátana, caiu em 550 a.C. Em vez de destruir ou escravizar, Ciro incorporou os medos como parceiros dos persas – uma política que repetiria toda a vida.

A conquista relâmpago: 550–539 a.C.

Lídia e Creso, o homem mais rico do mundo

Creso, rei da Lídia (moderna Turquia ocidental), famoso pela sua riqueza, atacou primeiro, temendo o crescimento persa. Foi derrotado na batalha de Ptería e na tomada de Sardes (546 a.C.). Heródoto diz que Creso foi colocado numa pira, mas salvou-se ao gritar o nome de Sólon. Ciro poupou-o e fez dele conselheiro.

A conquista da Babilónia (539 a.C.) – o momento mais célebre

Em outubro de 539 a.C., as tropas de Ciro entraram na Babilónia quase sem resistência. O Cilindro de Ciro, um documento de argila descoberto em 1879, é considerado por muitos a primeira declaração de direitos humanos da história. Nele, Ciro proclama:

“Eu sou Ciro, rei do universo (…) Eu não permiti que ninguém aterrorizasse a terra de Suméria e Acádia (…) Eu devolvi aos seus lugares os deuses que lá residiam e construí moradas permanentes para eles.”

Libertou os judeus do cativeiro babilónico (livro de Isaías 45 chama-o “ungido do Senhor”), restituiu os objetos sagrados dos templos e permitiu a reconstrução do Templo de Jerusalém – factos que fazem dele uma figura messiânica até na Bíblia hebraica.

O segredo do sucesso: a administração tolerante

Ao contrário dos assírios, que deportavam e massacravam, Ciro adotou uma política revolucionária:

  • Respeito pelas religiões e costumes locais
  • Manutenção das elites locais no poder (sistema de satrapias)
  • Uso do aramaico como língua administrativa comum
  • Construção da Estrada Real (2.700 km de Susa ao Egeu)
  • Serviço de correio imperial com estações de troca de cavalos (os famosos “pirradazish”)

Comparado com outros impérios da época:

ImpérioPolítica com conquistadosResultado
AssíriaTerror, deportações em massaÓdio eterno
Babilónia neobabilónicaDeportações seletivasResistência (ex: judeus)
Império Persa de CiroTolerância, autonomia religiosaEstabilidade de 200 anos

A morte de Ciro: mistério no fim da vida

Em 530 a.C., Ciro morreu em campanha contra os masságetas, tribo nómada da Ásia Central. Heródoto conta uma história dramática: a rainha Tomiris derrotou-o, cortou-lhe a cabeça e mergulhou-a num odre de sangue, dizendo: “Bebe agora o sangue que tanto desejaste.”

O seu túmulo, modesto para um rei tão grande, ainda existe em Pasárgada (Irão) com a inscrição:

“Ó homem, eu sou Ciro, que fundei o Império dos Persas e fui rei da Ásia. Não invejes o meu monumento.”

Legado de Ciro, o Grande

  • Criou o modelo de império multicultural que Alexandre, Roma e até os califas seguiriam
  • Influenciou diretamente o retorno dos judeus e a redação de partes da Bíblia
  • O Cilindro de Ciro foi usado pela ONU em 1971 como símbolo dos direitos humanos
  • A bandeira do Irão ainda tem 22 linhas que representam o dia 22 do mês de Bahman (11 de fevereiro) de 1979 – mas o túmulo de Ciro continua a ser venerado por milhões

Perguntas Frequentes sobre Ciro II

1. Ciro foi realmente tão tolerante como dizem?
Sim. Não há registo de destruição sistemática de templos ou cidades sob o seu governo, ao contrário de Assíria ou mesmo da posterior conquista de Alexandre.

2. Qual foi a extensão máxima do império no tempo de Ciro?
Do rio Indo (Paquistão atual) até à Líbia e à Trácia – cerca de 5,5 milhões de km² e mais de 40 milhões de habitantes.

3. Por que os judeus chamam Ciro de “messias”?
Porque Isaías 45:1 diz literalmente: “Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro…”. Foi o único gentio a receber esse título na Bíblia.

4. O que aconteceu depois da sua morte?
O filho Cambises II conquistou o Egito (Antigo Egipto – Novo Império), e Dario I, seu genro, organizou o império nas famosas 20 satrapias.

5. Onde posso ver o Cilindro de Ciro?
No British Museum, em Londres. Vale a visita!

Quer saber mais sobre o mundo que Ciro transformou?

Explore aqui no Canal Fez História os artigos relacionados:

E se quiser continuar esta viagem no tempo comigo, subscreva o canal no YouTube:
🎥 youtube.com/@canalfezhistoria

Siga também no Instagram e Pinterest para imagens, mapas e curiosidades diárias:
📸 instagram.com/canalfezhistoria
📌 pinterest.com/canalfezhistoria

A história não para – e eu também não. Até ao próximo artigo!