1453 à 1534 – Canal Fez História https://canalfezhistoria.com/ Faz e Fez História você encontra aqui!! Sun, 27 Apr 2025 17:45:38 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.1 https://canalfezhistoria.com/wp-content/uploads/2025/04/canal-fez-historia-150x150.jpg 1453 à 1534 – Canal Fez História https://canalfezhistoria.com/ 32 32 Portugal e rota para o Oriente https://canalfezhistoria.com/portugal-e-rota-para-o-oriente/ https://canalfezhistoria.com/portugal-e-rota-para-o-oriente/#respond Sun, 27 Apr 2025 17:45:37 +0000 https://canalfezhistoria.com/?p=7242 Com o sucesso de Ceuta, Portugal decide alçar voos mais altos. Em 1418, o Infante D. Pedro, filho mais jovem de D. João I, é escolhido para fazer uma longa viagem – que duraria 10 anos – em busca de notícias, conhecimentos científicos, mapas, relatos e tudo o mais que pudesse auxiliar Portugal na sua grande ambição: acessar, sem intermediários, as riquezas das Índias e se tornar protagonista em matéria de negócios.

É pretensão do Ocidente imaginar que a história começa no século XV com o Renascimento, a Reforma Protestante e a Revolução Científica. Isso talvez seja verdadeiro para o mundo ocidental, mas a história da sociedade é muito mais complexa que o Ocidente, e outras civilizações desenvolveram igualmente religiões, conhecimentos científicos, projetos sociais etc. Bata pensarmos, por exemplo, na Biblioteca de Alexandria, no Egito – que possuía 700 mil volumes em livros -, e em cujo complexo havia um jardim botânico um jardim zoológico e um observatório astronômico. Inaugurada no século II a.C., por ela circularam nomes como Arquimedes, Euclides e Ptolomeu. Havia séculos, os povos antigos – chineses, fenícios, entre outros – conheciam não somente técnicas avançadas de navegação, como navegar por mares e terras que, para o Ocidente, ainda eram completamente desconhecidos. É plausível que conhecessem a ligação entre os oceanos Índico e Atlântico, e igualmente plausível que tivessem até mesmo chegado ao Brasil e à América do Norte. 

Assim, surgiram duas notícias valiosas, obtidas pela expedição do Infante D. Pedro. A primeira era que havia um reino cristão incrustado no Oriente, e esse reino poderia servir de ponto de apoio para uma incursão de Portugal – tratava-se do reino do Preste João. A segunda era que os turcos estavam em franco processo de expansão do Império Otomano e que, mais dia, menos dia, as cobiçadíssimas rotas das especiárias do Oriente e a Rota da Seda da China seriam bloqueadas. Quando isso ocorresse, quem tivesse um plano B – outra rota para acessar o Oriente, por exemplo – ou melhores relações com os turcos otomanos certamente tomaria conta daquela generosa fatia do bolo.

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O Mercantilismo https://canalfezhistoria.com/o-mercantilismo/ https://canalfezhistoria.com/o-mercantilismo/#respond Sun, 27 Apr 2025 17:44:30 +0000 https://canalfezhistoria.com/?p=7239 O comércio sempre foi uma prática do ser humano, mas, a partir de meados do século XV, percebe-se nitidamente uma mudança, o surgimento de um novo espírito subsidiado por uma nova prática: o mercantilismo.

O mercantilismo pode ser resumido na intensificação das relações comerciais na passagem da Idade Média para a Idade Moderna. Uma verdadeira revolução se compararmos à lógica que dominava o comércio até o final do século XIV. 

Durante a Idade Média, influenciada pela filosofia de Santo Agostinho, que priorizava a cidade de Deus em detrimento da cidade dos homens, acumular riqueza e comercializar era visto como algo torpe. O destino das pessoas era obedecer a Deus e expiar os pecados cometidos na Terra. Com a inevitável intensificação do comércio entre, sobretudo, o Oriente e o Ocidente, essa filosofia vai sendo fortemente contestada. A relação entre reis e catolicismo será substituída cada vez mais pela relação entre reis e comércio. Segundo Giovanni Arrighi, economista político, esses dois polos se unem visando a dois objetivos comuns: a conquista de território e a prospecção de novos mercados, ou seja, poder e riqueza.

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O comércio entre o ocidente e o oriente https://canalfezhistoria.com/o-comercio-entre-o-ocidente-e-o-oriente/ https://canalfezhistoria.com/o-comercio-entre-o-ocidente-e-o-oriente/#respond Sun, 27 Apr 2025 17:43:35 +0000 https://canalfezhistoria.com/?p=7236 As principais cidades no Ocidente que dominavam o comércio dos produtos do Oriente eram Veneza, Gênova e Florença. No Oriente, a principal cidade, assim como principal porto, era Constantinopla (atual Istambul, na Turquia). Podemos agregar também as cidades de Trípoli, na Líbia, e Alexandria, no Egito.

Os cobiçados produtos do Oriente chagavam até esses portos por rotas terrestres. Dali, os comerciantes italianos, que monopolizavam esse comércio, distribuíam-nos para toda a Europa. No entanto, as relações entre o Ocidente cristão e o Oriente Médio muçulmano nunca foram amenas. Durante a Idade Média, as Cruzadas entre os anos 1100 d.C. e 1300 d.C) trataram de polarizar cada vez mais as relações entre esses dois povos e essas duas religiões. 

Para acessar as riquezas da Índia e do Oriente, os comerciantes europeus necessitavam manter relações – as mais diplomáticas possíveis – com esses povos, que eram seus grandes fornecedores. Qualquer ruptura significaria ruína total. Esse era o fio da navalha, no qual o grosso do comércio europeu se assentava.

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Introdução de Gêneros Tropicais na Europa https://canalfezhistoria.com/introducao-de-generos-tropicais-na-europa/ https://canalfezhistoria.com/introducao-de-generos-tropicais-na-europa/#respond Sun, 27 Apr 2025 17:42:17 +0000 https://canalfezhistoria.com/?p=7233 Como se pode notar, é impossível entender o Brasil sem compreender o contexto do seu descobrimento. Portugueses e outros povos estavam em busca de mercados consumidores ou fornecedores de qualquer coisa que pudesse se transformar em lucros. Nesse ponto, a região do Oriente Médio, a Índia e a China estava anos-luz à frente da civilização que Portugal encontrou no Brasil.

Caio Prado Júnior, no livro formação do Brasil contemporânea, analisa do seguinte modo o teor aventureiro da colonização portuguesa na América: “A América com que toparam não foi para eles, a princípio, senão um obstáculo oposto à realização de seus planos e que devia ser contornado”. Devido às parcas possibilidades de comércio, Portugal abandona completamente o Brasil e, para não perder as terras que futuramente poderiam ser úteis, resolve arrendá-las em troca de parte da produção que os arrendatários pudessem auferir da terra. A princípio, não havia outro produto para negociar senão os extrativos.

O primeiro arrendatário foi o judeu Fernando de Noronha, que obteve o rei de Portugal um concessão para explorar por três anos o pau-brasil. A introdução, também na Europa, de outros gêneros tropicais renderia altos dividendos aos concessionários. Fernando de Noronha era o representante de um consórcio que unia o banqueiro e comerciante alemão Jacob Fugger e o florentino igualmente comerciante e banqueiro Bartolomeu Marchionni. Em 1503, a dupla financiou uma das primeiras expedições de prospecção de negócios ao Brasil, comandada por Gonçalo Coelho. Em 1506, o próprio Fernando de Noronha fez sua expedição. A viagem de Noronha nessa data é particularmente interessante. 

Em 1506, ocorre o Pogrom de Lisboa, conhecido também como Massacre de Lisboa, em que milhares de judeus foram perseguidos e exterminados. Noronha é judeu – filho de uma família conversa, dos chamados de cristãos novos ou marranos. O arrendamento das terras no Brasil, é, certamente, uma tentativa de encontrar uma saída e uma alternativa para seu povo. Em 1511, a famosa nau Bretoa zarpou do Brasil com um carregamento milionário de pau-brasil.

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Expedições de Prospecção https://canalfezhistoria.com/expedicoes-de-prospeccao/ https://canalfezhistoria.com/expedicoes-de-prospeccao/#respond Sun, 27 Apr 2025 17:40:10 +0000 https://canalfezhistoria.com/?p=7230 Numa das primeiras viagens à América e ao Brasil, Américo Vespúcio resumiu friamente o que encontrou: “Pode-se dizer que não encontramos nada de proveito.” Ao longo dos primeiros 30 anos, foram inúmeras as viagens de reconhecimento do território brasileiro. Durante essas viagens, muitos marinheiros desertaram ou eram propositalmente deixados entre os naturais da terra para se familiarizar com a língua e colher informações.

Muitos desses homens se tornaram – assim como Covilhã no reinado de Preste João – de extrema importância para Portugal na sondagem do território. Destacaram-se os nomes de, pelo menos, três deles: o Bacharel, o Caramuru e João Ramalho, todos eles, provavelmente, vindos na primeira expedição de Cabral, ou até antes, em expedições secretas, no período de D. João II. 

Nos contatos com os naturais da terra, esses homens se imiscuíram no cotidiano da vida na colônia e foram descobrindo seus segredos e mistérios. Falava-se no Rei Branco e em uma montanha de prata em que abundavam ouro, prata e pedras preciosas. Na Europe, essas histórias contaminavam corações e mentes. Navegantes portugueses, espanhóis e franceses se arriscavam em contatos nem sempre amistosos com os selvagens, em diversas regiões, em busca dessas possibilidades. Como os exemplos do bispo Pero Fernandes Sardinha que, em 1556, foi devorado pelos índios Caetés depois de um naufrágio, e Hans Staden, que foi salvo por piratas franceses quando já estava indo para a brasa em 1549. Em nenhum momento, passou na cabeça desses homens que abordaram o território americano a ideia de povoamento – era exclusivamente o comércio que lhes interessava.

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Dom João II no Caminho do Paraíso https://canalfezhistoria.com/dom-joao-ii-no-caminho-do-paraiso/ https://canalfezhistoria.com/dom-joao-ii-no-caminho-do-paraiso/#respond Sun, 27 Apr 2025 17:32:34 +0000 https://canalfezhistoria.com/?p=7227 Em 1488, oficialmente, Bartolomeu Dias dobrou o cabo da Boa Esperança, e teria sido o primeiro a descobrir, para todos os efeitos, a ligação entre os oceanos Atlântico e Índico. Bartolomeu Dias partiu para sua viagem exploratória um ano depois do início da viagem de exploração e espionagem de Pêro da Carvilhã. Esse não foi, certamente, um acaso. A viagem de Bartolomeu Dias não foi um tiro no escuro, pois, obviamente, já partira munido de informações privilegiadas sobre a ligação entre os oceanos e a possibilidade de acessar o Oriente, navegando pela costa ocidental da África.

A viagem, elaborada em sigilo absoluto pelo Rei D. João II, era de reconhecimento, verificação e constatação. O resultado não poderia ter sido mais promissor. As informações enviadas por Covilhã estavam exatas. O alto investimento aplicado na viagem havia sido, enfim, recompensado pela prospecção de Bartolomeu Dias.

Confirmado a caminho alternativo para o Oriente, restava agora o trabalho em três grandes frentes. A primeira delas, estabelecer contato com o reinado do Preste João e firmar com ele uma parceria. Como vimos, essa foi exatamente a ordem enviada por D. João II a Covilhã no Cairo – levada pelos informante judeus – , ou seja, descoberta a informação mais importante (a da existência e de consórcio com Preste João. Ter um parceiro cristão – que conhecia todos os tratos do Oriente – era fundamental para fincar os dentes nas veias abertas de um Oriente tomado por infiéis mouros.

A segunda frente era programar uma grande expedição de reconhecimento, que, na longa duração, teria como objetivo atracar no porto de Sofala, estabelecer contato com os fornecedores e iniciar um trato comercial. A expedição de Bartolomeu Dias e seria comandada por Vasco da Gama. Certamente, entre a viagem de Bartolomeu Dias e a de Vasco da Gama, muitas outras expedições secretas ocorreram a fim de ir marcando o território e abrindo caminho. 

A terceira frente de trabalho era a de inteligência, ou seja, posse de informações decisivas e importantes para os rumos do comércio mundial. O grande desafio de D. João II era manter o sigilo sobre tais informações, sobre a fórmula mágica que descobriria. O fiat lux, o abre-te, Sésamo. O principal objetivo: despistar a concorrência, sobretudo da Espanha, se possível, até mesmo induzindo-a a erro, com informações falsas, desencontrada, plantadas propositalmente com o intuito de confundir. Certamente, D. João II lançou mão deste artifício – a contraespionagem – para salvaguardar seu valiosíssimo segredo. É aqui que a vida e a viagem de Colombo para descobrir a América, em 1492, se tornam um verdadeiro enigma.

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Dom João II https://canalfezhistoria.com/dom-joao-ii/ https://canalfezhistoria.com/dom-joao-ii/#respond Sun, 27 Apr 2025 17:31:31 +0000 https://canalfezhistoria.com/?p=7224 Quando assume o trono de Portugal em 1481, a sanha de D. João II em seguir as conquistas pelo continente africano e em buscar um caminho para o Oriente faz com que tome atitudes drásticas. A primeira é a conexão imediata com os proprietários das grandes empresas comerciais e dos bancos que financiavam as grandes e custosas viagens – todos de propriedade de judeus. Essa atitude custaria a ele o rompimento com a nobreza portuguesa, e também com a Igreja, que havia tempo vinha condenando o consórcio entre reis e comerciantes judeus. Para seguir o seu périplo em direção ao Oriente, por exemplo, D. João II assassina a punhaladas o próprio primo Diogo, Duque de Viseu. Em 1513, quando Maquiavel escreveu o príncipe, o pragmatismo de D. João II foi, certamente, uma de suas inspirações.

Eliminados os entraves inciais, D. João II convoca, em 1487, dois dos seus melhores quadros para uma missão secreta de espionagem: Pêro de Covilhã e Bartolomeu Dias. O objetivo expresso era não voltar para Portugal sem o mapa da mina: o caminho para as Índias. Pêro da Covilhã por terra e Bartolomeu Dias por mar. De porto em porto – Calecute, Cananor, Goa, Hormuz, Suaquém e Sofala, sempre navegando pela costa oriental da África e pelo Oriente Médio, Covilhã procurava confirmar as impressões de astrônomos e cartógrafos de Lisboa sobre as rotas comerciais no Oriente. De tanto burilar, descobriu com marinheiros que havia, sim, uma passagem ligando o oceano Índico ao Atlântico, bem como a informação de que a rota para se chegar às Índias, navegando para o oeste no Atlântico, era impraticável. Era o Santo Graal, a Arca da Aliança. Por essa informação, matava-se, morria-se e, sobretudo, ganhava-se muito dinheiro. Qualquer mercador ou banqueiro europeu daria uma verdadeira fortuna para quem conseguisse a proeza de descobrir tal passagem. 

Essa intercomunicabilidade entre os oceanos Índico e Atlântico foi descoberta em 1488 – por Bartolomeu Dias -, por meio de informações coletadas entre os comerciantes nos portos do Oriente. A informação mais preciosa que se poderia ter naquele momento. A descoberta ou a confirmação da possibilidade do caminho para as Índias, mediante a transposição do cabo da Boa Esperança, foi o fato revestido de maior sentido de toda a história das navegações. Esse segredo deveria ser guardado a sete chaves. Quem detivesse tal informação, tal savoir-faire, tal conhecimento processual seria, certamente, senhor do mundo. Era como se, nos dias de hoje, alguém descobrisse a fórmula da Coca-Cola.

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Colônia de Exploração https://canalfezhistoria.com/colonia-de-exploracao/ https://canalfezhistoria.com/colonia-de-exploracao/#respond Sun, 27 Apr 2025 17:30:30 +0000 https://canalfezhistoria.com/?p=7221 No início do século XVI, não interessava a Portugal estabelecer uma colonização de povoamento nos trópicos, como ocorreu na América do Norte, para onde europeus fugidos dos conflitos político-religiosos da Europa iam a fim de trabalhar e construir uma nova vida. No Brasil, isso não aconteceu porque não se precisava de mão de obra, pois essa seria fornecida por negreiros, que já contavam com os fornecedores de escravos na África e dominavam a logística do negócio.

A questão de que o europeu não formou colônia de povoamento no Brasil porque não se adaptava ao clima tropical é uma meia verdade. Fato é que a América do Norte não tinha, do ponto de vista comercial, muito a oferecer à Europa, seu clima era bem parecido e produzia os mesmo produtos. Mas, pelo mesmo motivo – o clima -, a América do Norte atraiu quem estivesse em busca de imigrar. Era nas regiões de clima tropical que se encontravam produtos novos, diferentes, para se comercializar. O problema, portanto, de não haver se formado no Brasil – desde os primórdios da colonização – uma colônia de povoamento que nos legaria um outro tipo de sociedade foi única e exclusivamente o negócio precedente em Portugal: o comércio de escravos. 

Portugal preferiu arrendar suas terras para grandes empresários, pensando no lucro imenso que auferiria no fornecimento da mão de obra escrava, cuja demanda era intensa num sistema de produção extensivo. Claro que, nesse contexto, a vinda de colonizadores para mero povoamento estava proibida. A imigração de trabalhadores para o Brasil ocorrerá, em maior escala, apenas no final do século XIX e início do XX. Até então, a mão de obra no Brasil era a escrava.

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Capitanias Hereditárias https://canalfezhistoria.com/capitanias-hereditarias/ https://canalfezhistoria.com/capitanias-hereditarias/#respond Sun, 27 Apr 2025 17:29:22 +0000 https://canalfezhistoria.com/?p=7218 Segure-se a esse período inicial o regime das Capitanias Hereditárias, de 1534 a 1549, uma organização social puramente mercantil. Nesse período, apenas duas delas prosperaram: a de São Vicente, cujo donatário era Martim Afonso de Souza – que também em parceria com banqueiros judeus holandeses fundou o engenho São Jorge dos Erasmos, um dos primeiros do Brasil, cujas ruínas podem ser até hoje visitadas na cidade de Santos, São Paulo -, e a de Pernambuco, cujo donatário era Duarte Coelho Pereira.

A maioria dessas capitanias foi concedida a famílias judias oriundas das ilhas do Açores e Madeira, onde a cultura da cana-de-açúcar estava a pleno vapor havia décadas. Ali, já havia sido desenvolvida toda a logística do negócio – plantação, engenho e comercialização. Para se abrir um engenho era preciso ter conhecimentos técnicos específicos, sobretudo em fundição de ferro. Banqueiros e comerciantes judeus financiavam todo o processo, desde a plantação da cana-de-açúcar até a implantação do engenho. Com isso, ficavam com o monopólio do transporte, refino e distribuição do produto na Europa.

Os portugueses forneciam as terras e, além de recolher impostos e tributos dos engenhos que estavam arrendados nas suas terras, ficavam também com o monopólio do fornecimento de mão de obra, ou seja, com a forma de escravos adquiridos na África.

Não se pode falar em um processo de colonização. O que ocorreu nesse período até 1534 foi um processo de terceirização. Portugal terceirizou tudo. Ganhava bem menos do que poderia auferir, mas também economizava um esforço imenso. Em suma “ocuparam apenas como agentes comerciais, funcionários dos reis e militares, o resto é contingência”. 

Totalmente dispersas e separadas umas das outras essas capitanias nunca chegaram a formar um conjunto, um todo. Eram, antes, um verdadeiro “arquipélago”. Completamente independentes umas das outras, viviam cada uma à própria sorte.

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A Viagem de Colombo https://canalfezhistoria.com/a-viagem-de-colombo/ https://canalfezhistoria.com/a-viagem-de-colombo/#respond Sun, 27 Apr 2025 17:28:12 +0000 https://canalfezhistoria.com/?p=7215 “Cristóbal colón

Nós, D. João […] vos enviamos muito saudar. […] E quanto à vossa vinda cá, certo, assim pelo que apontais como por outros respeitos para que vossa indústria e bom engenho nos será necessário e prazer nos há mauito de virdes porque o que a vós toca se dará tal forma de que vós deveis ser contente. […] E por tanto vos rogamos e encomendamos que vossa vinda seja logo e para isso não tenhais pejo algum e vos agradeceremos e teremos muito em serviço. Avis, 20 de março de 1488. A Cristóbal Colón nosso especial amigo em Sevilha.”

Essa carta de D. João II, enviada a Cristóvão Colombo, é um enigma. Com um histórico de assassinatos, traições, conspirações de todo tipo, D. João II era um homem cauteloso e gostava de andar bem informado. Infiltrava informantes e agentes por todo lugar, e não seria diferente na Espanha, sua maior concorrente no projeto de expansão comercial e marítima. Seria o tratamento dado a Colombo (“nosso especial amigo em Sevilha”) um indício de que ele era mais um dos agentes de D. João II?

É notório que, antes mesmo de prestar serviços para a Espanha, Cristóvão Colombo havia, por quase um década, tentando – a princípio em vão – oferecer seu projeto de navegação e de exploração em busca do caminho das Índias a D. João II. Em 1492, portanto, quando Colombo descobriu a América, estava a serviço de Castela. Bartolomeu Dias já havia, em 1488, constatado que o caminho para as Índias era navegando rumo ao sul, e não a oeste no oceano Atlântico. O fato de o projeto de Colombo ser o de navegar no sentido oeste no Atlântico não teria sido propositalmente com o intuito de desviar a atenção de Castela da rota para o sul?

Esse projeto apresentado a Castela não teria sido previamente combinado entre Colombo e D. João II, com o propósito deliberado de desviar Castela do verdadeiro caminho das Índias? Se assim foi, porém, as promessas e as amostras de metais e pedras preciosas que Colombo havia trazido da viagem colocaram D. João II em alerta. Em uma terra em que o rei tinha informações de ser completamente árida do ponto de vista comercial, havia tesouros ainda mais valiosos do que as especiarias das Índias. 

O recado de Colombo foi claro: era melhor D. João II não subestimar nada, pois o tiro de desviar os espanhóis da rota das Índias poderia sair pela culatra. Se estivesse vivo em 1545, quando os espanhóis conquistaram as minas de prata de Potosí, certamente D. João II teria se arrependido amargamente de não ter dado ouvidos aos conselhos do seu agente secreto.

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A Viagem de Cabral https://canalfezhistoria.com/a-viagem-de-cabral/ https://canalfezhistoria.com/a-viagem-de-cabral/#respond Sun, 27 Apr 2025 17:26:56 +0000 https://canalfezhistoria.com/?p=7212 Com a marte de D. João II em 1495, o ímpeto agressiva da expansão portuguesa cairá da frigideira para a brasa, se tanto. Com o casamento de D. Manuel I e Isabel de Castela, a coisa toda declina vertiginasamente, e a aproximação com a Espanha e com a Igreja interromperá o projeto português. Mesmo porque, em sua maior parte, as navegações eram bancadas por comerciantes judeus, e uma das cláusulas do casamento entre Manuel I e Isabel era a expulsão dos judeus de Portugal. Da Espanha já haviam sido expulsos, em 1492, e de Portugal seriam em dezembro de 1496. Embora mornas, as viagens para o Oriente e para as possessões portuguesas na África continuaram. Uma delas seria realizada por Pedro Álvares Cabral, que zarpou em 1500 de Lisboa e, antes de tomar o rumo do Oriente, descobriria, entre aspas, o Brasil em 22 de abril. Essa viagem estava programada, mesmo que de forma secundária, desde o exato momento em que Colombo retornara de sua expedição e, atracando em Portugal, dera notícias a D. João II de que havia, sim, como suspeitavam seus cosmógrafos e astrônomos, uma terra na rota do oeste. Do ponto de vista comercial, ela era imprestável, mas as perspectivas, as melhores possíveis.

É claro que, para quem havia acabado de fincar os dentes nas veias mais suculentas que se pudesse abocanhar no mercado internacional – o caminho para as Índias e para o Oriente -, o descobrimento do Brasil não passou de um acontecimento secundário. Desse modo, ao longo dos primeiros 50 anos, pode-se dizer que houve um certo abandono em relação à nova descoberta.

O descobrimento do Brasil, como vimos, aconteceu num momento de euforia em Portugal, com a descoberta quase concomitante do caminho para as Índias. Portugal, assim como a maioria dos países europeus, tais como França, Inglaterra e Países Baixos, estava em busca, de um lado, de produtos para serem comercializados, e, de outro, de mercados consumidores.

No Brasil, ao contrário do cenário encontrado no Oriente, onde vicejavam uma civilização e um comércio intenso, os portugueses só encontraram índios que viviam em estado de natureza. Praticamente nada produziam, nada vendiam, nada compravam. Para o comércio, a terra era, portanto, imprestável. A princípio, uma decepção enorme. Assim como havia sido, oito anos atrás, a chegada de Colombo à América. Nos primeiros contatos entre portugueses e naturais da terra, percebeu-se que a viagem não havia sido de todo perdido. Um pau que vertia uma tinta vermelha, muito parecida com o que produzia certo corante vindo da Índia, foi a única possibilidade de negócio que, de imediato, conseguiu prospectar o treinado faro dos portugueses para negócios. Num contato subsequente, dentro do navio em que se encontrava Pedro Álvares Cabral, com um natural da terra, no qual foram trocados vários presentes, este tocou o longo colar de ouro do comandante em sinal de que aquele material não lhe era estranho. Questionado, fez sinais apontando para o colar e para o continente, como se quisesse dizer que na terra se poderia encontrar ouro. 

Para a esmeralda, o diamante e tudo o mais que lhe mostraram em matéria de pedras e metais preciosos, ele sinalizou que havia na terra. Aquele indígena, sem pronunciar uma palavra sequer em português, começava a falar a linguagem daqueles homens e a selar o destino de sua terra.

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A Tomada de Constantinopla https://canalfezhistoria.com/a-tomada-de-constantinopla/ https://canalfezhistoria.com/a-tomada-de-constantinopla/#respond Sun, 27 Apr 2025 17:25:52 +0000 https://canalfezhistoria.com/?p=7209 Desprezados e até ridicularizados em suas iniciativas de expansão em direção ao Atlântico Sul, um giro até então impensável da roda da fortuna colocará os portugueses na vanguarda do comércio mundial. Quando os navios mercantes aportaram em Veneza, Gênova e Florença, naquele mês de abril de 1453, traziam para os comerciantes e para os reis uma notícia aterradora: o mar calmo do Mediterrâneo havia sido sacudido por um vendaval, um maremoto, um tsunami. As principais rotas das especiarias (canela, gengibre, cravo, pimenta e açafrão) e da seda da China haviam sido bloqueadas com a queda de Constantinopla. A notícia era do que, a partir daquele momento, os preços subiriam de forma estratosférica. A sensação de uma crise iminente se abateu sobre os protos que tinham o monopólio dessas rotas e produtos, e comercializavam com toda a Europa as riquezas do Oriente.

É aqui que a até então desprezada expansão marítima portuguesa ganha grandioso sentido. Segundo Arrighi, no século XV, sobretudo depois da tomada e queda de Constantinopla, “os governantes territorialistas ibéricos e os banqueiros mercantis capitalistas uniram-se pela simples razão de que cada um dos lados era capaz de fornecer ao outro aquilo de que ele mais precisava; e o relacionamento durou porque essa relação de complementariedade foi continuamente reproduzida pela exitosa especialização dos dois lados em suas respectivas atividades. Aquilo de que a classe capitalista mais precisava no século XV era uma aplicação de seu espaço comercial, que fosse suficiente para acolher seu imenso excedente de capital e recursos humanos, e para manter vivas suas extensas redes comerciais”. 

Com a crise derivada da tomada de Constantinopla, capitalista judeus sediados em Gênova, Florença e Veneza intensificaram o financiamento às explorações portuguesas. Segundo Arrighi, “à medida que essa associação se formou e que os chamados grandes descobrimentos a consolidaram, o capitalismo foi finalmente liberto de sua longa crise e disparou rumo a seu momento de maior expansão”.

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A tomada de Ceuta como ponto de partida https://canalfezhistoria.com/a-tomada-de-ceuta-como-ponto-de-partida/ https://canalfezhistoria.com/a-tomada-de-ceuta-como-ponto-de-partida/#respond Sun, 27 Apr 2025 17:24:50 +0000 https://canalfezhistoria.com/?p=7206 Eufórico com o sucesso em Ceuta e com o Infante D. Pedro prospectando informações pelos continentes africano e asiático, Portugal segue no seu processo de expansão comercial e marítima por caminhos completamente inusitados e até desprezados. As terras ao sul do Atlântico eram imprestáveis para o comércio. Contrariando esse senso comum, em 1419, no reinado do Infante D. Henrique, o arquipélago, que tem na Madeira e nos Açores as suas principais ilhas, foi descoberto por João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira.

Em 1434, Gil Eanes e Afonso Gonçalves Baldaia avançaram para além do cabo Bojador, que era o limite até onde se havia navegado em direção ao Atlântico Sul. A partir dali, o cenário era tenebroso. Relatos medievais falavam em monstros aquáticos, sereias, precipícios, sumidouros… Golçalves Baldaia, em 1435, enfrentou o desconhecido e tocou a costa ocidental da África. A partir desse contato inicial, uma nova era se abre para o parco comércio português. Em 1441, Antão Gonçalves inicia um tipo de transação que se tornará a menina dos olhos dos portugueses e objeto de intensa disputa comercial: o negócio com escravos. Além dessas mercadorias, outras afluem para Lisboa: ouro em pó, marfim e pimenta-malagueta. Um novo produto estava começando a ganhar terreno no aguçado paladar da nobreza europeia: o açúcar. 

Portugal será pioneiro na sua produção, que demandava, no entanto, dois aspectos que lhe eram escassos: gente para trabalhar e terras. Esses problemas serão sanados com a anexação das ilhas. Nessas ilhas – Madeira e Açores -, Portugal implantará um sistema de produção de açúcar com base em três princípios novos para os padrões com base em três princípios novos para os padrões europeus: a monocultura, o latifúndio e o trabalho escravo. 

Os portugueses ainda não sabiam, evidentemente – não se pode prever o futuro -, mas haviam acabado de criar, nesses anos de prospecção de novos mercados, dois padrões que se tornariam normas para o comércio mundial nos quatro séculos seguintes: primeiro, o comércio e o tráfico de escravos, e a produção e comercialização do açúcar; segundo, o pioneirismo na rota do Atlântico Sul, inicialmente entre a Europa, a África e o Oriente, mediante a transposição do cabo da Boa Esperança, e, em seguida, a extensão desse sistema para a América. Nada mal para quem era nota de rodapé da 20ª página do livro dos países mais importantes da Europa.

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A Expansão Comercial e Marítima https://canalfezhistoria.com/a-expansao-comercial-e-maritima/ https://canalfezhistoria.com/a-expansao-comercial-e-maritima/#respond Sun, 27 Apr 2025 17:23:44 +0000 https://canalfezhistoria.com/?p=7204 As principais cidades no Ocidente que dominavam o comércio dos produtos do Oriente eram Veneza, Gênova e Florença. No Oriente, a principal cidade, assim como principal porto, era Constantinopla (atual Istambul, na Turquia). Podemos agregar também as cidades de Trípoli, na Líbia, e Alexandria, no Egito.

Os cobiçados produtos do Oriente chagavam até esses portos por rotas terrestres. Dali, os comerciantes italianos, que monopolizavam esse comércio, distribuíam-nos para toda a Europa. No entanto, as relações entre o Ocidente cristão e o Oriente Médio muçulmano nunca foram amenas. Durante a Idade Média, as Cruzadas entre os anos 1100 d.C. e 1300 d.C) trataram de polarizar cada vez mais as relações entre esses dois povos e essas duas religiões. 

Para acessar as riquezas da Índia e do Oriente, os comerciantes europeus necessitavam manter relações – as mais diplomáticas possíveis – com esses povos, que eram seus grandes fornecedores. Qualquer ruptura significaria ruína total. Esse era o fio da navalha, no qual o grosso do comércio europeu se assentava.

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