No dia de Natal do ano 800, na Basílica de São Pedro em Roma, o papa Leão III colocou uma coroa na cabeça de um rei franco que já dominava quase toda a Europa ocidental. “A Carlos, augustíssimo, coroado por Deus, grande e pacífico imperador dos romanos, vida e vitória!” Aquele homem era Carlos Magno, e aquele momento mudou para sempre o curso da história.

Quem Foi Carlos Magno? Das Sombras de Pepino à Luz do Império

Nascido provavelmente em 742 (ou 748 – as fontes divergem), Carlos era filho de Pepino, o Breve, e neto de Carlos Martel, o herói da Batalha de Poitiers (732) que deteve o avanço islâmico na Europa. Quando Pepino morreu em 768, o reino franco foi dividido entre Carlos e seu irmão Carlomano. Três anos depois, Carlomano morria subitamente (talvez convenientemente) e Carlos tornava-se o único rei dos francos.

A sua estatura física impressionava: Eginardo, o seu biógrafo, diz que media cerca de 1,84 m – quase um gigante para a época. Mas o que realmente o tornava gigante era a visão política.

As Grandes Campanhas: Uma Espada Nunca Quietada

A Conquista da Saxónia (772-804)

A mais longa e brutal das suas guerras. Os saxões, povo germânico pagão liderado por Widukind, resistiram ferozmente. Em 782, Carlos ordenou o massacre de Verden: 4.500 saxões executados num só dia. Anos depois, Widukind rendeu-se e foi batizado. A Saxónia tornou-se cristã – à força. Leia mais sobre as migrações bárbaras c. 300-800 para entender o contexto.

A Campanha contra os Lombardos (773-774)

O rei lombardo Desidério ameaçava o papado. Carlos atravessou os Alpes, tomou Pavia e autoproclamou-se “rei dos lombardos”. O norte de Itália entrava na órbita franca.

A Marca Hispânica e Roncesvales (778)

A famosa derrota na emboscada basca em Roncesvales – imortalizada na Canção de Rolando – foi uma exceção. Carlos criou a Marca Hispânica (actual Catalunha), o primeiro território cristão ao sul dos Pirenéus após a invasão muçulmana de 711.

Ávaros, Eslavos e Bávaros

Entre 791 e 796 destruiu o canato ávaro na Panónia, trazendo para Aix-la-Chapelle (Aachen) um tesouro tão grande que, segundo a lenda, precisou de 15 carroças para o transportar.

O Renascimento Carolíngio: Quando a Europa Voltou a Ler e Escrever

Carlos Magno não era apenas guerreiro. Era obcecado pela cultura. Mandou vir à corte os maiores sábios da época:

  • Alcuíno de York – o cérebro do renascimento
  • Paulo Diácono – historiador lombardo
  • Eginardo – o seu biógrafo
  • Teodulfo – poeta hispano-gótico

Criou a Escola Palatina em Aachen. Ordenou que cada mosteiro e catedral tivesse uma escola. Padronizou a escrita com a famosa minúscula carolíngia – a letra que ainda hoje usamos evoluiu dali. Sem Carlos Magno, talvez nunca tivéssemos preservado tantos textos da civilização romana c. 753 a.C.-476 d.C..

A Coroação Imperial de 800: Imperador… Contra a Vontade?

A 25 de Dezembro de 800, Leão III coroou Carlos imperador. Eginardo diz que Carlos “não teria entrado na igreja se soubesse das intenções do papa”. Porquê? Porque o Império Bizantino ainda existia, e a imperatriz Irene reinava em Constantinopla. Aceitar a coroa podia ser visto como um desafio. Mas Carlos aceitou – e tornou-se o primeiro imperador do Ocidente desde 476.

A Administração do Império: Missi Dominici e Capitulares

Como governar um território que ia do Atlântico ao Elba? Carlos criou:

  • Missi dominici – inspectores itinerantes (um conde e um bispo) que percorriam o império
  • Capitulare de villis – manual de gestão das propriedades reais
  • Moeda única de prata – o denário

Tudo isto antecipava o Estado moderno.

A Divisão do Império: O Tratado de Verdun (843)

Carlos morreu a 28 de Janeiro de 814 em Aachen. Foi sepultado na catedral que mandara construir. O seu filho Luís, o Pio, sucedeu-lhe, mas os netos dividiram o império em 843:

  • Lotário – a Francia Média (incluindo Aachen e Roma)
  • Luís, o Germânico – a Francia Oriental (futuro Sacro Império)
  • Carlos, o Calvo – a Francia Ocidental (futuro Reino de França)

O sonho de um império unido morria… mas nascia a Europa das nações.

Legado: O Pai da Europa

Hoje, o Prémio Carlos Magno é atribuído a quem mais contribui para a unidade europeia. Aachen continua a ser chamada “a cidade de Carlos Magno”. E a bandeira europeia tem 12 estrelas – número que, segundo alguns, remete para a coroa de Carlos Magno.

Perguntas Frequentes sobre Carlos Magno

Carlos Magno sabia ler e escrever?

Sim. Aprendeu latim e grego, embora preferisse falar o franco antigo. Mandou traduzir obras para as línguas populares.

Quantos filhos teve?

Pelo menos 18, de várias esposas e concubinas. A dinastia carolíngia continuou por gerações.

Foi realmente “o Pai da Europa”?

Sim. Uniu pela primeira vez, após Roma, grande parte da Europa ocidental sob um mesmo poder cristão e cultural. Sem ele, talvez a civilização bizantina 330-1453 tivesse sido o único herdeiro de Roma.

Porque é chamado “Carlos, o Grande” (em latim: Carolus Magnus)?

Pela dimensão das suas conquistas, pela reforma cultural e pela criação de uma nova ordem política.

Qual a relação com os Vikings?

Lutou contra eles no norte. O seu império foi um dos primeiros alvos das invasões vikings após a sua morte. Saiba mais em vikings c. 793-1066.

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