Desprezados e até ridicularizados em suas iniciativas de expansão em direção ao Atlântico Sul, um giro até então impensável da roda da fortuna colocará os portugueses na vanguarda do comércio mundial. Quando os navios mercantes aportaram em Veneza, Gênova e Florença, naquele mês de abril de 1453, traziam para os comerciantes e para os reis uma notícia aterradora: o mar calmo do Mediterrâneo havia sido sacudido por um vendaval, um maremoto, um tsunami. As principais rotas das especiarias (canela, gengibre, cravo, pimenta e açafrão) e da seda da China haviam sido bloqueadas com a queda de Constantinopla. A notícia era do que, a partir daquele momento, os preços subiriam de forma estratosférica. A sensação de uma crise iminente se abateu sobre os protos que tinham o monopólio dessas rotas e produtos, e comercializavam com toda a Europa as riquezas do Oriente.
É aqui que a até então desprezada expansão marítima portuguesa ganha grandioso sentido. Segundo Arrighi, no século XV, sobretudo depois da tomada e queda de Constantinopla, “os governantes territorialistas ibéricos e os banqueiros mercantis capitalistas uniram-se pela simples razão de que cada um dos lados era capaz de fornecer ao outro aquilo de que ele mais precisava; e o relacionamento durou porque essa relação de complementariedade foi continuamente reproduzida pela exitosa especialização dos dois lados em suas respectivas atividades. Aquilo de que a classe capitalista mais precisava no século XV era uma aplicação de seu espaço comercial, que fosse suficiente para acolher seu imenso excedente de capital e recursos humanos, e para manter vivas suas extensas redes comerciais”.
Com a crise derivada da tomada de Constantinopla, capitalista judeus sediados em Gênova, Florença e Veneza intensificaram o financiamento às explorações portuguesas. Segundo Arrighi, “à medida que essa associação se formou e que os chamados grandes descobrimentos a consolidaram, o capitalismo foi finalmente liberto de sua longa crise e disparou rumo a seu momento de maior expansão”.