A tomada de Ceuta como ponto de partida

A tomada de Ceuta como ponto de partida

Eufórico com o sucesso em Ceuta e com o Infante D. Pedro prospectando informações pelos continentes africano e asiático, Portugal segue no seu processo de expansão comercial e marítima por caminhos completamente inusitados e até desprezados. As terras ao sul do Atlântico eram imprestáveis para o comércio. Contrariando esse senso comum, em 1419, no reinado do Infante D. Henrique, o arquipélago, que tem na Madeira e nos Açores as suas principais ilhas, foi descoberto por João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira.

Em 1434, Gil Eanes e Afonso Gonçalves Baldaia avançaram para além do cabo Bojador, que era o limite até onde se havia navegado em direção ao Atlântico Sul. A partir dali, o cenário era tenebroso. Relatos medievais falavam em monstros aquáticos, sereias, precipícios, sumidouros… Golçalves Baldaia, em 1435, enfrentou o desconhecido e tocou a costa ocidental da África. A partir desse contato inicial, uma nova era se abre para o parco comércio português. Em 1441, Antão Gonçalves inicia um tipo de transação que se tornará a menina dos olhos dos portugueses e objeto de intensa disputa comercial: o negócio com escravos. Além dessas mercadorias, outras afluem para Lisboa: ouro em pó, marfim e pimenta-malagueta. Um novo produto estava começando a ganhar terreno no aguçado paladar da nobreza europeia: o açúcar. 

Portugal será pioneiro na sua produção, que demandava, no entanto, dois aspectos que lhe eram escassos: gente para trabalhar e terras. Esses problemas serão sanados com a anexação das ilhas. Nessas ilhas – Madeira e Açores -, Portugal implantará um sistema de produção de açúcar com base em três princípios novos para os padrões com base em três princípios novos para os padrões europeus: a monocultura, o latifúndio e o trabalho escravo. 

Os portugueses ainda não sabiam, evidentemente – não se pode prever o futuro -, mas haviam acabado de criar, nesses anos de prospecção de novos mercados, dois padrões que se tornariam normas para o comércio mundial nos quatro séculos seguintes: primeiro, o comércio e o tráfico de escravos, e a produção e comercialização do açúcar; segundo, o pioneirismo na rota do Atlântico Sul, inicialmente entre a Europa, a África e o Oriente, mediante a transposição do cabo da Boa Esperança, e, em seguida, a extensão desse sistema para a América. Nada mal para quem era nota de rodapé da 20ª página do livro dos países mais importantes da Europa.