De 11 de novembro de 1955 a 31 de janeiro de 1956, Nereu de Oliveira Ramos foi o 19.º Presidente do Brasil. Em apenas 81 dias, enfrentou uma das maiores crises institucionais da nossa história e, com serenidade jurídica e coragem política, impediu que o país mergulhasse num golpe militar ou numa guerra civil.
Nereu Ramos é, muitas vezes, um nome esquecido entre os grandes presidentes, mas quem conhece a fundo a história da República Velha, do Estado Novo e da redemocratização de 1945 sabe: sem ele, talvez não tivéssemos chegado à posse de Juscelino Kubitschek e ao milagre dos “50 anos em 5”.
Vamos mergulhar fundo na vida deste advogado, jurista, governador e presidente que nasceu em Lages, Santa Catarina, e acabou entrando para a história como o “presidente da legalidade”.
Origens: a família Ramos e o planalto catarinense
Nereu Dornelles Ramos nasceu a 3 de setembro de 1888, em Lages, na então chamada “terra dos pinheirais”. Filho de Vidal Ramos (governador de Santa Catarina entre 1910 e 1914) e de Ana de Oliveira Ramos, cresceu num ambiente de elite política e intelectual do sul do Brasil.
A família Ramos era parte da oligarquia catarinense que dominava o estado desde o final do Império. O avô, o coronel Manuel Ramos, lutara na Guerra do Paraguai. O pai, Vidal Ramos, foi um dos fundadores do Partido Republicano Catarinense. Era natural que o jovem Nereu seguisse o caminho do Direito e da política.
Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1908, em Largo de São Francisco, São Paulo, ao mesmo tempo que Juscelino Kubitschek, Café Filho e tantos outros futuros líderes brasileiros.
A ascensão política nos anos 1910-1930
- 1911 – Deputado estadual em Santa Catarina
- 1922 – Secretário do Interior e Justiça do estado
- 1930 – Eleito deputado federal
- 1935-1937 – Interventor federal (governador nomeado) de Santa Catarina durante o Estado Novo
- 1945 – Após a redemocratização, elege-se senador constituinte
Nereu era um político moderado, habilidoso na conciliação. Pertencia ao PSD (Partido Social Democrático), a grande máquina eleitoral criada por Getúlio Vargas para sustentar sua influência após 1945.
A crise de 1955: o suicídio de Vargas e a instabilidade
Para entender o que levou Nereu ao Palácio do Catete, precisamos voltar um ano.
A 24 de agosto de 1954, Getúlio Vargas suicida-se. Seu vice, Café Filho, assume. Café Filho era um político trabalhista de origem, mas rapidamente aproxima-se da UDN e dos setores mais conservadores e anti-varguistas das Forças Armadas.
Em 1955, as eleições presidenciais opõem:
- Juscelino Kubitschek (PSD-PTB) – candidato da continuidade getulista
- Juarez Távora (UDN) – candidato da “cruzada moralizadora”
JK vence com 35,9% dos votos – a famosa “maioria relativa”. A UDN não aceita o resultado e começa a falar em impedimento. Setores militares, liderados pelo general Henrique Lott (ministro da Guerra) e pelo coronel Juraci Magalhães, defendem a posse de JK. Outros, como Eduardo Gomes e o próprio presidente Café Filho, flertam com a ideia de golpe.
11 de novembro de 1955: o contragolpe preventivo
A 1.º de novembro de 1955, o jornalista Carlos Lacerda sofre um atentado na Rua Tonelero. A oposição acusa o governo. A crise explode.
Café Filho, alegando problemas cardíacos, licencia-se no dia 8 de novembro e entrega o cargo ao presidente da Câmara, Carlos Luz, que era abertamente golpista.
Carlos Luz, em apenas 3 dias, tenta organizar um golpe com o almirante Carlos Pena Boto. O general Lott, então, executa o chamado “Movimento de 11 de Novembro” – um contragolpe preventivo para garantir a posse de JK.
O Congresso, pressionado, depõe Carlos Luz. O próximo na linha sucessória seria o senador Ranieri Mazzilli, mas ele estava em viagem à Argentina. Sobrou para o vice-presidente do Senado: Nereu Ramos.
Às 19h30 do dia 11 de novembro de 1955, Nereu Ramos toma posse como Presidente da República.
Os 81 dias que salvaram a democracia
Nereu governou por apenas 81 dias, mas foram intensos:
- Declarou o estado de sítio (aprovado pelo Congresso) para conter os golpistas
- Manteve Lott no Ministério da Guerra
- Garantiu que as Forças Armadas permanecessem unidas em torno da legalidade
- Preparou a transição pacífica para Juscelino
A 31 de janeiro de 1956, Juscelino Kubitschek toma posse. Nereu entrega a faixa presidencial e volta ao Senado.
Estilo de governo e personalidade
Diferente da maioria dos presidentes brasileiros, Nereu era discreto, culto e extremamente formal. Falava baixo, escrevia textos jurídicos impecáveis e evitava holofotes. Era chamado pelos íntimos de “Doutor Nereu”.
Certa vez, perguntado por um jornalista sobre o que faria se houvesse um golpe, respondeu calmamente:
“A Constituição é clara. O presidente da República sou eu. Enquanto eu estiver vivo e em pleno exercício do cargo, a Constituição será cumprida.”
Últimos anos e morte
Após deixar a presidência, voltou ao Senado. Em 1958, foi eleito governador de Santa Catarina novamente. Morreu repentinamente a 16 de junho de 1958, aos 69 anos, vítima de um infarto fulminante, em São Paulo.
Seu corpo foi levado para Lages e sepultado no Cemitério Municipal, onde até hoje existe um mausoléu simples com a inscrição:
“Aqui jaz Nereu Ramos – Presidente da República que salvou a democracia brasileira”.
Legado de Nereu Ramos
- Foi o único catarinense a presidir o Brasil
- É o presidente que menos tempo ficou no cargo (81 dias)
- Impediu, com serenidade, que o Brasil vivesse um golpe em 1955
- Representa o raro caso em que a linha sucessória constitucional funcionou perfeitamente numa crise
Perguntas Frequentes sobre Nereu Ramos
Quem foi Nereu Ramos?
Nereu de Oliveira Ramos (1888-1958) foi advogado, senador, governador de Santa Catarina e presidente do Brasil entre 11 de novembro de 1955 e 31 de janeiro de 1956.
Por que Nereu Ramos virou presidente?
Após o afastamento de Café Filho e a deposição de Carlos Luz pelo Movimento de 11 de Novembro de 1955, Nereu, como vice-presidente do Senado, era o terceiro na linha de sucessão.
Nereu Ramos foi eleito presidente?
Não. Ele assumiu por sucessão constitucional, conforme o artigo 79 da Constituição de 1946.
Qual partido político ele pertencia?
PSD – Partido Social Democrático.
Qual foi a maior contribuição de Nereu Ramos?
Garantir a posse de Juscelino Kubitschek em 1956, evitando a ruptura democrática que setores da UDN e parte das Forças Armadas pretendiam.
Existe alguma estátua ou homenagem importante a ele?
Sim. Em Brasília, há o Palácio Nereu Ramos (anexo ao Congresso Nacional). Em Lages, a principal avenida leva seu nome, assim como o aeroporto da cidade.
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A história do Brasil é cheia de personagens incríveis – e Nereu Ramos é, sem dúvida, um dos mais importantes que quase ninguém lembra. Compartilhe este artigo e ajude a resgatar essa memória!
Até o próximo mergulho no passado. 🇧🇷
















