Constantino, o Grande (272–337 d.C.) | O Imperador Romano que Legalizou o Cristianismo e Fundou Constantinopla

Constantino I, mais conhecido como Constantino, o Grande, é uma das figuras mais fascinantes e controversas de toda a Antiguidade Tardia. Num Império Romano já à beira do colocação, ele conseguiu o impensável: unificar o poder, derrotar todos os rivais, legalizar o cristianismo e, de caminho, fundar uma nova capital que sobreviveria mais de mil anos como coração do mundo bizantino.
Se quiser saber quem foi realmente o homem por trás da lenda, continue a ler – prometo que vai valer a pena.

Das sombras de Diocleciano ao trono do mundo

Flávio Valério Constantino nasceu por volta de 272 d.C. em Naisso (atual Niš, na Sérvia), filho do general Constâncio Cloro e de Helena (futura Santa Helena). O seu tempo de juventude foi passado como refém político na corte de Diocleciano – uma prática comum na Tetrarquia criada para evitar revoltas.
Quando, em 306 d.C., Constâncio Cloro morreu em Eboracum (York, Inglaterra), as tropas proclamaram Constantino como Augusto. Começava assim uma das mais brutais guerras civis da história romana.

A Batalha da Ponte Mílvia e a famosa visão

Em 312 d.C., Constantino marchou sobre Roma para enfrentar Maxêncio na célebre Batalha da Ponte Mílvia.
Segundo o historiador Eusébio de Cesareia e o próprio Lactâncio, na véspera da batalha Constantino teve uma visão: um sinal no céu com as palavras “In hoc signo vinces” (“Com este sinal vencerás”). Ordenou então que os seus soldados pintassem o lábaro ✝ (o famoso Chi-Rho) nos escudos. Venceu. Maxêncio afogou-se no Tibre. Roma era dele.

“Vi com os meus próprios olhos o troféu da cruz luminosa acima do sol, e as palavras: Com este sinal vencerás.”
– Constantino, citado por Eusébio

Este episódio tornou-se um dos momentos mais debatidos da História: foi realmente uma conversão sincera ou uma jogada política genial? A verdade, como sempre, está algures no meio.

O Edito de Milão (313 d.C.) – o ponto de viragem

No ano seguinte, em Milão, Constantino e Licínio promulgaram o célebre Edito de Milão, que concedia liberdade de culto a todos os cidadãos do Império, incluindo os cristãos. Pela primeira vez na história, o cristianismo deixava de ser uma religião perseguida para se tornar religio licita.
Se quiser aprofundar como era o cristianismo antes de Constantino, veja o artigo O Nascimento do Cristianismo (c. 30-100 d.C.).

A fundação de Constantinopla – a Nova Roma

Em 324 d.C., após eliminar Licínio, Constantino tornou-se senhor único do Império. Decidiu então fundar uma nova capital no local da antiga Bizâncio. A 11 de maio de 330 d.C. inaugurava-se oficialmente Constantinopla, a “Nova Roma”.
A cidade, protegida por muralhas impressionantes e situada na encruzilhada entre Europa e Ásia, sobreviveria até 1453 como capital do Império Bizantino (330-1453).

O Concílio de Niceia (325 d.C.) – Constantino como “bispo dos bispos”

Embora não fosse batizado (só o seria no leito de morte), Constantino convocou e presidiu o primeiro concílio ecuménico da história cristã em Niceia, na Bitínia. O objetivo? Resolver a controvérsia ariana.
O resultado foi o célebre Credo Niceno-Constantinopolitano, que ainda hoje é rezado nas igrejas católica e ortodoxa.
Curiosidade: foi neste concílio que se fixou a data da Páscoa e se condenou Ário.

As reformas militares, administrativas e monetárias

Constantino não foi apenas o “imperador cristão”. Foi também um genial reformador:

  • Criou o soldo de ouro (solidus), moeda estável que durou séculos.
  • Separou definitivamente o poder civil do militar.
  • Criou os comitatenses (exército de campanha) e limitanei (tropas de fronteira).
  • Dividiu o Império em prefeituras, dioceses e províncias – estrutura que duraria até ao fim do Império do Ocidente.

A mãe Helena e a invenção das relíquias sagradas

Santa Helena, mãe de Constantino, viajou à Terra Santa com 80 anos e, segundo a tradição, descobriu a Vera Cruz (a cruz de Cristo), os cravos e o Santo Sepulcro. Verdade ou lenda piedosa? Não sabemos, mas o impacto foi enorme.

O batismo no leito de morte e a sucessão trágica

Em 337 d.C., já gravemente doente, Constantino recebeu finalmente o batismo das mãos do bispo ariano Eusébio de Nicomédia (ironia do destino). Morreu a 22 de maio em Nicomédia.
Os seus três filhos – Constantino II, Constâncio II e Constante – dividiram o Império… e começaram imediatamente a matar-se uns aos outros. Apenas Constâncio II sobreviveria.

Legado: herói cristão ou tirano oportunista?

A historiografia debate-se há 17 séculos:

  • Para os cristãos medievais: santo e igual-aos-apóstolos (título que ainda hoje tem na Igreja Ortodoxa).
  • Para Gibbon (Declínio e Queda do Império Romano): oportunista cruel que enfraqueceu Roma ao favorecer o cristianismo.
  • Para os historiadores atuais: um génio político que percebeu antes de todos que o futuro do Império passava pelo cristianismo.

Perguntas Frequentes sobre Constantino

Constantino realmente converteu-se ou foi só política?

Provavelmente as duas coisas. A visão da Ponte Mílvia pode ter sido real (experiência mística) ou propaganda genial. O certo é que, a partir de 312, as suas políticas foram cada vez mais pró-cristãs.

Constantino fundou o cristianismo?

Não. O cristianismo já existia há quase 300 anos. Constantino apenas o tornou a religião oficial (Edito de Tessalónica, 380 d.C., já com Teodósio).

Por que mudou a capital de Roma para Constantinopla?

Roma estava demasiado exposta a invasões bárbaras e longe das fronteiras mais perigosas (Danúbio e Eufrates). Constantinopla era inexpugnável e controlava o comércio entre o Mediterrâneo e o Mar Negro.

Constantino foi canonizado?

Sim, pela Igreja Ortodoxa, que o celebra a 21 de maio juntamente com a mãe Helena. A Igreja Católica nunca o canonizou oficialmente, mas venera-o como santo.

Qual foi a maior realização de Constantino?

Para muitos, a legalização e proteção do cristianismo. Para outros, a fundação de Constantinopla – a cidade que salvou a civilização greco-romana por mais mil anos.

Um homem que mudou o mundo

Sem Constantino, o cristianismo talvez tivesse permanecido uma seita minoritária. Sem Constantinopla, o Império Romano do Ocidente teria colapsado ainda mais cedo.
Ele foi guerreiro implacável, político maquiavélico, reformador brilhante e, talvez, no fim da vida, um verdadeiro crente.

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Até ao próximo artigo! ✍️