Descubra a vida do homem que recusou ser rei e criou uma nação inteira a partir de quase nada. Um artigo completo sobre o primeiro presidente dos EUA e o seu impacto eterno.

George Washington (1732-1799) não foi apenas o primeiro presidente dos Estados Unidos. Ele foi o símbolo vivo da possibilidade de uma república democrática nascer num mundo ainda dominado por monarquias absolutas. Sem ele, talvez a Revolução Americana (1775-1783) tivesse fracassado, e o mapa político das Américas seria completamente diferente – inclusive para o Brasil, que se inspiraria anos depois nas independências do continente.

Vamos mergulhar fundo na vida deste gigante da história.

Primeiros Anos: De Agrimensor a Herói Colonial

Nascido a 22 de fevereiro de 1732 em Westmoreland County, Virgínia, George era filho de uma família de plantadores de tabaco de classe média-alta. Perdeu o pai aos 11 anos e nunca frequentou universidade – algo que o diferenciava de quase todos os outros Founding Fathers, como Thomas Jefferson ou Benjamin Franklin.

Aos 16 anos já trabalhava como agrimensor nas terras selvagens do oeste da Virgínia. Essa experiência deu-lhe um conhecimento íntimo da fronteira que seria decisivo na Guerra Franco-Indígena (1754-1763). Com apenas 22 anos, o tenente-coronel Washington comandou tropas virginianas em Fort Necessity e, mais tarde, acompanhou o general Braddock na desastrosa expedição de 1755. Sob fogo cerrado, viu quatro balas atravessarem o casaco sem o ferir. Nascia a lenda de que “uma mão invisível o protegia”.

Mount Vernon: A Vida de Plantador e o Despertar Político

Em 1759 casa-se com Martha Custis, uma das viúvas mais ricas da colónia, e torna-se dono de Mount Vernon. Lá administra milhares de hectares e centenas de escravizados – sim, Washington foi dono de escravos durante quase toda a vida, um facto que hoje gera debate intenso. No testamento, libertou todos os que lhe pertenciam diretamente (cerca de 123 pessoas), a única grande figura fundadora a fazê-lo.

Foi na década de 1770, ao ver os impostos britânicos (Stamp Act, Townshend Acts, Tea Act) sufocar as colónias, que Washington se radicalizou. Ele próprio escreveu: “As armas devem ser o último recurso, mas estamos a chegar lá.”

O Comandante-em-Chefe: A Guerra da Independência

Em 1775, o Segundo Congresso Continental nomeou-o Comandante-em-Chefe do Exército Continental. Aceitou sem salário – “não quero lucrar com a liberdade do meu país”.

Os anos seguintes foram de sofrimento quase inimaginável:

  • Derrota em Nova Iorque (1776)
  • Travessia surpresa do rio Delaware e vitória em Trenton (Natal de 1776)
  • Inverno brutal em Valley Forge (1777-1778)
  • Aliança decisiva com a França (graças a Benjamin Franklin em Paris)
  • Cerco final em Yorktown (1781)

No fim, Washington conseguiu o impossível: derrotar o maior império do mundo com um exército de voluntários mal pagos e mal equipados.

A Maior Vitória: Devolver o Poder

Em 1783, quando a guerra terminou, Washington chocou o mundo. Poderia ter-se tornado ditador ou rei – muitos oficiais queriam isso. Em vez disso, renunciou ao comando em Annapolis e voltou para Mount Vernon. O rei Jorge III, ao saber, disse: “Se fez isso, é o maior homem do mundo.”

Este ato inspirou diretamente a futura abdicação de Dom Pedro I do Brasil em 1831 e mostrou ao planeta que repúblicas podiam sobreviver sem cair em tirania.

A Convenção Constitucional de 1787

Em 1787, já com 55 anos, Washington aceitou presidir à Convenção da Filadélfia. Falou pouco, mas a sua mera presença garantiu credibilidade. Sem ele, os delegados talvez nunca chegassem a acordo. O resultado? A Constituição mais duradoura da história moderna.

Presidente dos Estados Unidos (1789-1797)

Eleito por unanimidade – o único presidente na história a receber 100% dos votos eleitorais – duas vezes.

Principais feitos:

  • Criou o primeiro gabinete executivo
  • Estabeleceu a neutralidade americana face às guerras napoleónicas
  • Esmagou a Rebelião do Uísque (1794) – mostrando que o governo federal tinha dentes
  • Emitiu o célebre Farewell Address (escrito com Alexander Hamilton), alertando contra partidos políticos e alianças permanentes – conselho que os EUA ignorariam muitas vezes depois

Recusou um terceiro mandato, consolidando a tradição dos dois mandatos (até FDR).

Últimos Anos e Legado

Morreu a 14 de dezembro de 1799, apenas dois anos após deixar a presidência, de uma infecção na garganta tratada com sangrias excessivas. As suas últimas palavras teriam sido: “Tis well” (Está bem).

Hoje, a capital dos EUA tem o seu nome, o estado de Washington, monumentos, moedas, notas de dólar. Mas o maior legado é intangível: provou que líderes podem voluntariamente devolver o poder.

Perguntas Frequentes sobre George Washington

George Washington foi mesmo o primeiro presidente dos EUA?
Sim, de 30 de abril de 1789 a 4 de março de 1797. Antes dele existiram “Presidentes do Congresso Continental”, mas sem poder executivo.

Ele cortou mesmo a cerejeira com o machado?
Não. A história da cerejeira (“I cannot tell a lie”) foi inventada pelo biógrafo Mason Weems em 1806 para vender livros.

Quantos escravos teve?
Ao morrer, 317 pessoas escravizadas viviam em Mount Vernon; 123 eram dele, os restantes pertenciam à herança Custis.

Washington acreditava em Deus?
Era deísta moderado. Ia à igreja anglicana, mas nunca tomou comunhão depois da guerra e falava mais de “Providência” do que de Jesus.

Porque usava peruca branca?
Não usava peruca. Tinha cabelo ruivo-avermelhado que polvilhava com pó branco, como era moda na época.

Ele tinha dentes de madeira?
Mito. Os seus dentes postiços eram feitos de marfim, dentes humanos (comprados, inclusive de escravos), dentes de animais e metal.

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