Oliver Cromwell é uma das figuras mais fascinantes e controversas de toda a história britânica. Para alguns, foi o maior defensor da liberdade parlamentar contra a tirania real; para outros, um ditador hipócrita que trocou um rei absoluto por um regime militar-puritano ainda mais repressivo. O certo é que, entre 1642 e 1658, ele mudou para sempre o destino das Ilhas Britânicas e deixou marcas que ainda hoje dividem opiniões.
As Origens: De Caipira de Huntingdon a Deputado Puritano
Nascido a 25 de abril de 1599 em Huntingdon, Cromwell pertencia à pequena nobreza rural (gentry). A sua família enriquecera com a dissolução dos mosteiros promovida por Henrique VIII – ironia que os monárquicos nunca se cansaram de apontar. Estudou no Sidney Sussex College, em Cambridge, uma instituição fortemente puritana.
Em 1628 foi eleito deputado por Huntingdon ao Parlamento de Carlos I. Pouco destacou-se nessa fase, mas já se notava o seu fervor religioso. Cromwell acreditava piamente que era um instrumento escolhido por Deus – convicção que o acompanharia até à morte.
“Deus me fez instrumento da Sua vontade. Se eu recuar, que Ele me mate; se avançar, que Ele me proteja.”
As Guerras Civis Inglesas (1642-1651): O Nascimento do New Model Army
Quando Carlos I tentou governar sem Parlamento e impôs o anglicanismo à Escócia presbiteriana, rebentou a Primeira Guerra Civil (1642-1646). Cromwell, então com 43 anos, criou um regimento de cavalaria em Cambridgeshire – os famosos “Ironsides” – que nunca conheceu a derrota.
A vitória parlamentar deveu-se, em grande parte, à criação do New Model Army em 1645, um exército profissional, pago pelo Estado e não por coronéis privados, onde a promoção dependia do mérito e da piedade, não do nascimento. Cromwell tornou-se tenente-general da cavalaria e, em batalhas como Marston Moor (1644) e Naseby (1645), destruiu o exército realista.
A Segunda Guerra Civil (1648) e a Terceira (1650-1651), esta última já contra os escoceses que coroaram Carlos II, confirmaram a supremacia militar de Cromwell. Na Irlanda (1649-1650) e na Escócia (1650-1651), as suas campanhas foram particularmente brutais: o massacre de Drogheda e Wexford ainda hoje é lembrado com horror na memória irlandesa.
O Regicídio: “In the name of God, go!”
Em janeiro de 1649, depois do Pride’s Purge (expulsão dos deputados presbiterianos e moderados), restou o Rump Parliament – cerca de 60 deputados radicais. Cromwell foi o terceiro a assinar a sentença de morte de Carlos I. A 30 de janeiro de 1649, o rei foi decapitado em Whitehall.
“Cortamos a cabeça do rei com a coroa na cabeça”, diria mais tarde Cromwell.
Nascia a Commonwealth of England – a primeira república da história moderna europeia.
O Protetorado (1653-1658): Ditador em Tudo Menos no Nome
Em 1653, cansado das divisões do Rump, Cromwell dissolveu-o à força (“Saia, seu bando de prostitutas embriagadas!”). Criou-se o Barebone’s Parliament, que durou pouco. A 16 de dezembro de 1653, Cromwell aceitou o título de Lord Protector sob o Instrument of Government – a única constituição escrita que a Inglaterra alguma vez teve.
Governou com os Major-Generals (1655-1657), dividindo o país em 11 distritos militares. Fecharam-se teatros, proibiram-se corridas de cavalos, danças, jogos de cartas e até o Natal (considerado “papista”). A Inglaterra puritana tornou-se, nas palavras do próprio Cromwell, “um país de santos”.
Na política externa, porém, foi brilhante: a Guerra Anglo-Holandesa (1652-1654) terminou com vitória inglesa; a conquista da Jamaica (1655) iniciou o império britânico no Caribe; e a aliança com a França contra a Espanha trouxe Dunquerque como troféu.
A Morte e a Vingança Póstuma
Cromwell morreu a 3 de setembro de 1658, provavelmente de septicemia após infecção urinária. O seu funeral foi o mais caro da história inglesa até então. O filho Richard sucedeu-o, mas era fraco. Em 1660, o general Monck abriu caminho à Restauração de Carlos II.
A 30 de janeiro de 1661 – 12º aniversário do regicídio – os corpos de Cromwell, Ireton e Bradshaw foram exumados, “enforcados” em Tyburn e decapitados. A cabeça de Cromwell ficou exposta num espigão em Westminster Hall até 1685.
Legado: Herói ou Vilão?
- Para os whigs do século XVIII, Cromwell foi o pai da liberdade parlamentar.
- Para os irlandeses, é ainda hoje sinónimo de genocídio.
- Para os republicanos radicais, foi o primeiro chefe de Estado que governou sem coroa.
- Para os monárquicos, o maior traidor da história inglesa.
A verdade, como sempre, está algures no meio.
Perguntas Frequentes sobre Oliver Cromwell
1. Cromwell era republicano convicto?
Não exatamente. Ele recusou a coroa em 1657, mas só depois de longas negociações. Preferia um “governo misto” com um chefe de Estado forte.
2. Porque é tão odiado na Irlanda?
Pelo massacre de Drogheda (1649), onde cerca de 3500 pessoas (incluindo civis) foram mortas após a rendição da cidade, violando as leis da guerra da época.
3. Cromwell aboliu a monarquia para sempre?
Não. Apenas 11 anos depois, em 1660, a monarquia foi restaurada. Mas a ideia de que um rei podia ser julgado e executado pelo povo nunca mais desapareceu.
4. Era realmente um ditador?
Sim e não. Governou com parlamentos (embora os dissolvesse quando queria), mas também com um Conselho de Estado e, nos últimos anos, com os Major-Generals – uma verdadeira junta militar.
5. Qual foi a sua frase mais famosa?
Ao dissolver o Long Parliament em 1653:
“Vós sois um bando de mercenários corruptos… Em nome de Deus, ide-vos embora!”
Quer Aprofundar Mais?
Se gostaste deste artigo sobre Oliver Cromwell, não percas os nossos textos relacionados com a história britânica e as revoluções do século XVII:
- Era Vitoriana e o Império Britânico (1837-1901)
- Revolução Industrial c.1760-1840
- Revolução Gloriosa e Guilherme de Orange (ver também Isabel I e o contexto elisabetano)
- Reforma e Contrarreforma
- Guerra dos Cem Anos (1337-1453)
E se queres saber como as ideias de soberania popular chegaram ao continente e influenciaram a Revolução Francesa (1789-1799), temos um artigo completíssimo.
Gostaste? Então segue o Canal Fez História nas redes para mais conteúdo diário:
📺 YouTube → @canalfezhistoria
📸 Instagram → @canalfezhistoria
📌 Pinterest → canalfezhistoria
E se quiseres apoiar o projeto e ter acesso a mapas, cronologias exclusivas e ebooks, passa pela nossa Loja.
A história não para. E nós também não.
Volta sempre ao Canal Fez História – onde o passado ganha vida.
















