De um jovem oficial corso a imperador dos franceses, a história de um gênio militar que transformou o mundo entre 1789 e 1821
Napoleão Bonaparte é, sem dúvida, uma das figuras mais fascinantes e controversas da história universal. Nascido numa pequena ilha mediterrânica, tornou-se o protagonista de uma era que mudou para sempre o mapa político, jurídico e cultural da Europa e, por extensão, do mundo. Neste artigo, mergulhamos fundo na sua vida, conquistas, derrotas e legado, conectando-o com os grandes processos históricos que já abordamos aqui no Canal Fez História.
Origens: A Córsega e o Caos da Revolução Francesa
Napoleão Bonaparte nasceu a 15 de agosto de 1769 em Ajaccio, apenas três meses depois de a França comprar a Córsega a Génova. Filho de uma família de pequena nobreza italiana, foi educado em escolas militares continentais graças a uma bolsa real. Quando eclode a Revolução Francesa (1789-1799), Napoleão, então um jovem tenente de artilharia, regressa à ilha natal, oscilando entre o patriotismo corso e o jacobino.
A Revolução, que já explorámos em detalhe, foi o grande acelerador da sua carreira. Em 1793, com apenas 24 anos, destaca-se no cerco de Toulon, ganhando o posto de general de brigada. A rapidez da sua ascensão deve-se ao vazio de poder criado pela execução ou emigração dos antigos oficiais aristocratas.
O General Vitorioso: Itália e Egito (1796-1799)
Em 1796, o Diretório entrega-lhe o comando do Exército de Itália, um conjunto de tropas mal equipadas e famintas. Em menos de um ano, Napoleão esmaga os exércitos austríacos em batalhas como Lodi, Arcole e Rivoli. O Tratado de Campo Formio (1797) elimina a Áustria da Primeira Coligação e cria repúblicas-irmãs nos moldes franceses.
Em 1798 parte para a campanha do Egito, com o objetivo estratégico de cortar a rota inglesa para a Índia. Apesar da derrota naval em Abukir, a expedição deixa um legado científico monumental – a descoberta da Pedra de Roseta e a Description de l’Égypte. Regressa clandestinamente à França em 1799, aproveitando o desgaste do Diretório.
18 de Brumário: Do golpe ao Consulado (1799-1804)
A 9 de novembro de 1799 (18 de Brumário do Ano VIII), Napoleão dá o golpe que põe fim à Revolução. Torna-se Primeiro-Cônsul com poderes quase ditatoriais. Nos anos seguintes:
- Assina a Concordata com o Papa (1801)
- Promulga o Código Civil (1804), base do direito moderno em dezenas de países
- Cria o Banco de França
- Reorganiza a administração e o ensino
Em 1802 é nomeado Cônsul Vitalício e, em 1804, Imperador dos Franceses numa cerimónia em Notre-Dame onde ele próprio coloca a coroa na cabeça – um gesto simbólico de que o poder vem do povo e do seu mérito, não da graça divina.
O Império Napoleónico no seu Apogeu (1805-1812)
As Grandes Vitórias
- 1805 – Austerlitz: a “batalha dos três imperadores”, considerada a sua obra-prima tática
- 1806 – Jena-Auerstedt: aniquilação da Prússia em duas semanas
- 1807 – Friedland: derrota da Rússia
- 1809 – Wagram: vitória apertada contra a Áustria
Em 1810 o Império Napoleónico atinge a sua máxima extensão: da Galiza ao mar Báltico, da Holanda ao sul da Itália. Mais de 70 milhões de pessoas vivem sob domínio francês ou de estados-satélites.
Reformas Internas
O Código Napoleónico, o sistema educativo com os liceus, o Conselho de Estado, a Legião de Honra, a centralização administrativa – tudo isso ainda hoje marca países tão diversos como Bélgica, Itália, Alemanha ocidental, Polónia e até o Brasil (influência indireta através do direito português reformado).
O Bloqueio Continental e a Guerra Peninsular
Para dobrar a Inglaterra economicamente, Napoleão decreta o Bloqueio Continental (1806). Portugal recusa-se a cumprir, levando à invasão francesa de 1807 e à transferência da corte para o Rio de Janeiro – um facto que mudaria para sempre a história brasileira, como já vimos em A Vinda da Família Real Portuguesa.
A resistência espanhola e portuguesa, apoiada pelos ingleses sob comando de Wellington, transforma-se numa “úlcera” que sangra o exército francês durante seis anos. A Guerra Peninsular (1808-1814) é o primeiro grande fracasso de Napoleão.
O Princípio do Fim: Rússia 1812
Em junho de 1812, a Grande Armée – 600 mil homens de vinte nacionalidades – atravessa o Niemen rumo a Moscovo. A tática russa de terra queimada e o inverno rigoroso destroem o exército. Dos 600 mil, menos de 50 mil regressam. É o maior desastre militar da era moderna até então.
A Campanha da França e os Cem Dias (1814-1815)
Em 1814, as potências coligadas invadem a França. Paris rende-se. Napoleão abdica em Fontainebleau e é exilado para a ilha de Elba.
A 1 de março de 1815 desembarca em Golfe-Juan com mil homens. O exército enviado para o prender junta-se-lhe. Luís XVIII foge. Começam os Cem Dias.
A 18 de junho de 1815, em Waterloo (Bélgica), a coligação anglo-prussiana derrota definitivamente Napoleão. Exilado em Santa Helena, morre a 5 de maio de 1821, provavelmente de cancro do estômago.
Legado de Napoleão: Mito e Realidade
Napoleão é um paradoxo vivo:
- Levou os ideais da Revolução Francesa (igualdade perante a lei, mérito, secularização) a metade da Europa
- Ao mesmo tempo restabeleceu a escravatura nas colónias (1802) e coroou-se imperador
- Destruiu o feudalismo onde passou, mas criou uma nova nobreza imperial
- Perdeu duas vezes o poder, mas ainda hoje é o segundo personagem histórico mais escrito depois de Jesus Cristo
O seu Código Civil continua em vigor em dezenas de países. A organização administrativa francesa é, em grande parte, criação sua. E o próprio conceito de “Estado-nação” moderno deve muito ao modelo napoleónico.
Perguntas Frequentes sobre Napoleão Bonaparte
Qual foi a batalha mais importante de Napoleão?
Austerlitz (2 de dezembro de 1805) é considerada a sua obra-prima tática e uma das batalhas mais perfeitas da história militar.
Napoleão era baixo?
O mito do “complexo de Napoleão” nasceu de propaganda inglesa. Media cerca de 1,68 m – altura média para a época. A confusão veio da diferença entre polegadas francesas e inglesas.
Ele realmente colocou a coroa na própria cabeça?
Sim. A 2 de dezembro de 1804, na presença do Papa Pio VII, Napoleão tirou a coroa das mãos do pontífice e coroou-se a si próprio, depois à imperatriz Josefina.
Porque invadiu a Rússia?
Principalmente porque o czar Alexandre I abandonou o Bloqueio Continental, permitindo o comércio com a Inglaterra – a única potência que Napoleão nunca conseguiu derrotar militarmente.
Quantas batalhas perdeu?
Das cerca de 60 batalhas que comandou pessoalmente, perdeu apenas 8 – a maioria no final da carreira.
Quer saber mais sobre esta época?
Aqui no Canal Fez História temos vários artigos que complementam a vida de Napoleão:
- Guerras Revolucionárias e Napoleónicas da França e o Congresso de Viena (1789-1815)
- Revolução Francesa (1789-1799)
- Iluminismo (c. 1715-1789)
- A Vinda da Família Real Portuguesa
- União Ibérica (1580-1640)
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