Descubra a vida do maior profeta do Antigo Testamento, a sua relação com o Antigo Egito, os Dez Mandamentos e o impacto eterno do Êxodo

Moisés é, sem dúvida, uma das figuras mais fascinantes e influentes de toda a história. Não é apenas o protagonista central do Livro do Êxodo, mas também o homem que, segundo a tradição judaico-cristã, recebeu diretamente de Deus as tábuas da Lei no Monte Sinai. A sua vida atravessa períodos históricos reais que já explorámos aqui no Canal Fez História, como o Antigo Egito – Novo Império (c. 1550-1070 a.C.), o Antigo Egito – Médio Império e até o Antigo Império, permitindo-nos encaixar a narrativa bíblica no contexto arqueológico e histórico conhecido.

Quem Foi Moisés? Uma Infância entre Dois Mundos

Segundo o relato do Êxodo, Moisés nasceu hebreu numa época em que os filhos de Israel eram escravizados no Egito. Para escapar ao decreto do faraó que mandava matar todos os recém-nascidos varões hebreus, a sua mãe esconde-o num cesto de junco e coloca-o nas margens do Nilo. Quem o encontra? Nada menos que a filha do faraó, que o adota e cria como príncipe egípcio.

Este episódio coloca Moisés num ambiente palaciano que já conhecemos bem: o luxo do Novo Império, com faraós como Ramsés II (cujo reinado muitos identificam com o “faraó do Êxodo”) ou talvez Amenhotep II ou Tutmés III. Ele recebe educação de elite, aprende escrita hieroglífica, estratégia militar e administração – competências que mais tarde usará para liderar um povo inteiro.

O Crime, a Fuga e o Chamado no Deserto

Aos 40 anos, Moisés mata um capataz egípcio que maltratava um escravo hebreu. Temendo a vingança do faraó, foge para a terra de Midiã, onde pastoreia ovelhas durante mais 40 anos. É aí, junto à sarça ardente no Monte Horeb (Sinai), que Deus se revela como “Eu Sou Aquele que Sou” (Êxodo 3:14) e lhe dá a missão de libertar Israel.

“Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca, e te ensinarei o que hás de falar.”
— Êxodo 4:12

Este é o momento pivotal. Moisés, agora com 80 anos, regressa ao Egito acompanhado do irmão Arão.

As Dez Pragas e o Êxodo: Quando a História e a Fé se Cruzam

Para forçar o faraó a libertar os hebreus, Deus envia dez pragas que afetam apenas os egípcios. Água transformada em sangue, rãs, piolhos, moscas, peste no gado, úlceras, granizo, gafanhotos, trevas e, por fim, a morte dos primogênitos.

A última praga leva à instituição da Páscoa judaica: o sangue do cordeiro nos umbrais das portas protege os hebreus. O faraó cede, mas logo se arrepende e persegue os fugitivos com o seu exército. É então que acontece o milagre mais famoso da Bíblia: a abertura do Mar Vermelho (ou Mar dos Juncos). Os hebreus passam a pé enxuto; as águas fecham-se sobre os egípcios.

Se quiser aprofundar o contexto egípcio dessa época, recomendo fortemente a leitura completa do artigo sobre o Antigo Egito – Novo Império.

40 Anos no Deserto: Da Rebelião à Aliança

Após a saída do Egito, Israel caminha 40 anos pelo deserto do Sinai. Nesse período:

  • Moisés sobe ao Monte Sinai e recebe as tábuas com os Dez Mandamentos.
  • Constrói-se o Tabernáculo e organiza-se o culto levítico.
  • Ocorre a rebelião de Coré, a serpente de bronze, a conquista de territórios a leste do Jordão.

Moisés, porém, não entrará na Terra Prometida. Por ter duvidado e batido duas vezes na rocha de Meribá em vez de falar como Deus ordenara, ele apenas a contempla do Monte Nebo antes de morrer, com 120 anos.

Moisés na História: Personagem Real ou Lenda?

A discussão académica é intensa. Não existe menção direta a Moisés ou ao Êxodo em fontes egípcias contemporâneas – o que não é surpreendente, pois os faraós raramente registavam derrotas. No entanto:

  • A Estela de Merneptá (c. 1208 a.C.) é o primeiro documento extrabíblico que menciona “Israel” como povo.
  • Hipóteses como a “Hipótese dos Hicsos” tentam ligar a saída dos hebreus à expulsão desse povo semita do Egito por volta de 1550 a.C.
  • A cronologia mais aceite entre historiadores bíblicos conservadores aponta para cerca de 1446 a.C. (baseada em 1 Reis 6:1) ou 1270 a.C. (cronologia baixa, associada a Ramsés II).

Seja qual for a data exata, o impacto cultural é inegável. Moisés é reivindicado como profeta pelo Judaísmo, Cristianismo e Islão (onde é chamado Musa e é o profeta mais mencionado no Alcorão).

Moisés e Outras Grandes Figuras da Antiguidade

Comparar Moisés com outros líderes da época ajuda a perceber a sua singularidade:

FiguraCivilizaçãoPeríodoFeito Principal
MoisésHebreusc. 13º–15º século a.C.Êxodo e entrega da Lei
HamurabiBabilóniac. 1792–1750 a.C.Código de Hamurabi
AkhenatonAntigo Egitoc. 1353–1336 a.C.Tentativa de monoteísmo (Aton)
Sargão de AcadAssíria/Sumerc. 2334–2279 a.C.Primeiro grande império conhecido
Ciro IIImpério Persa559–530 a.C.Libertação dos judeus do exílio babilónico

Moisés destaca-se por ter fundado não um império territorial, mas uma identidade nacional baseada numa aliança teológica.

Moisés na Arte, Literatura e Cultura Popular

  • Michelangelo – a famosa estátua em São Pedro Encadenado (Roma)
  • Filme Os Dez Mandamentos (1956) com Charlton Heston
  • Obra Moisés do pintor José de Ribera
  • Referências na literatura brasileira (Machado de Assis, Jorge Amado)
  • Música: ópera Moses und Aron de Arnold Schönberg

Perguntas Frequentes sobre Moisés

Moisés realmente escreveu o Pentateuco?

A tradição judaico-cristã atribui-lhe a autoria dos cinco primeiros livros da Bíblia (Génesis a Deuteronómio). A crítica moderna fala em várias fontes (J, E, D, P) compiladas séculos depois. A questão permanece aberta.

Qual foi o nome do faraó do Êxodo?

A Bíblia não o diz. Candidatos mais citados: Tutmés III, Amenhotep II, Ramsés II ou Merneptá.

Moisés tinha gaguez?

O próprio texto diz que era “tardo de fala” (Êxodo 4:10). Arão falava por ele nas primeiras audiências.

Onde fica o verdadeiro Monte Sinai?

Duas localizações principais: a tradicional Jebel Musa (Península do Sinai) e a alternativa Har Karkom ou até locais na Arábia Saudita (teoria de Ron Wyatt).

Moisés é reconhecido no Islão?

Sim. É o profeta mais mencionado no Alcorão (136 vezes) e considerado o interlocutor direto de Alá.

Um Legado que Atravessa Milénios

Moisés não foi apenas um libertador de escravos. Foi o homem que transformou um grupo de tribos oprimidas numa nação com lei, culto e identidade única. Os Dez Mandamentos continuam a ser a base ética de bilhões de pessoas. A história do Êxodo inspira lutas pela liberdade em todo o mundo – da abolição da escravatura nos EUA à luta anti-apartheid na África do Sul.

Se este artigo despertou a sua curiosidade, convido-o a:

A história não é apenas passado – é a chave para compreender quem somos hoje.

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