“Seja a mudança que você quer ver no mundo.”
Explore a vida do maior símbolo da resistência pacífica da história e descubra como um advogado indiano transformou a Civilização Indiana c. 3300 a.C. – 500 d.C. num movimento que abalou o maior império do século XX.
Introdução: Por que Gandhi ainda importa em 2025?
Mohandas Karamchand Gandhi (1869–1948), mais conhecido como Mahatma (“a grande alma”), foi advogado, político, filósofo e, acima de tudo, revolucionário. A sua estratégia de satyagraha – a força da verdade e da não-violência – conseguiu o impossível: expulsar o Império Britânico da Índia sem um exército regular. A Independência da Índia 1947 tornou-se modelo para movimentos de libertação em todo o planeta, da África do Sul de Mandela à luta pelos direitos civis de Martin Luther King.
Neste artigo gigantesco (mais de 4500 palavras!), vamos percorrer a vida inteira do Mahatma, desde a infância em Porbandar até ao trágico assassinato, passando pela África do Sul, pela Marcha do Sal, pelo jejum até à morte e pelo legado que ainda hoje inspira milhões.
Infância e Juventude: As raízes de um revolucionário
Nascido numa família tradicional de Gujarat
Mahatma Gandhi nasceu a 2 de outubro de 1869 em Porbandar, numa família de comerciantes vaišnava (hindus devotos de Vishnu). A mãe Putlibai, profundamente religiosa, marcou-o com jejuns e princípios de ahimsa (não-violência). Gandhi casou-se aos 13 anos com Kasturba (Kasturba Gandhi), numa prática comum da época.
Aos 19 anos partiu para Londres para estudar Direito. Lá, entrou em contacto com o vegetarianismo, a Teosofia e leu pela primeira vez o Bhagavad Gita em inglês. Voltou à Índia em 1891 como advogado formado, mas sem sucesso profissional em Bombaim.
África do Sul (1893–1914): O nascimento do Satyagraha
Em 1893, um contrato de um ano levou-o à África do Sul. Um episódio mudou tudo: foi expulso de um comboio de primeira classe em Pietermaritzburg por ser “de cor”. Esse racismo brutal despertou-o politicamente.
- Fundou o Natal Indian Congress (1894)
- Criou a comunidade Tolstoy Farm
- Desenvolveu o conceito de satyagraha durante a campanha contra o “Black Act” (registro obrigatório de asiáticos)
Em 1906, milhares de indianos queimaram publicamente os seus passes em Joanesburgo. Gandhi foi preso várias vezes. Em 1914, o governo sul-africano cedeu: aboliu o imposto de 3 libras sobre ex-trabalhadores contratados e reconheceu os casamentos hindus. Gandhi regressou à Índia como herói.
Quer saber mais sobre o contexto histórico da discriminação racial? Leia o artigo sobre a União Sul-Africana e o Império Etíope c. 1910-1974.
Regresso à Índia: De advogado a líder de massas
1915–1922: O encontro com Gopal Krishna Gokhale e o Congresso
Ao chegar, Gandhi percorreu a Índia de comboio em terceira classe para conhecer o país real. Em 1915 fundou o Sabarmati Ashram em Ahmedabad. Começou campanhas locais:
- Champaran (1917) – defesa dos agricultores de índigo no Bihar
- Kheda (1918) – recusa de impostos após inundações
- Ahmedabad (1918) – greve dos operários têxteis
Em 1919 veio o massacre de Amritsar (Jallianwala Bagh): o general Dyer mandou disparar sobre uma multidão desarmada – 379 mortos oficiais, mais de 1000 segundo fontes indianas. Gandhi devolveu as medalhas que tinha recebido na Guerra dos Bôeres e lançou o primeiro movimento nacional de não-cooperação (1920–1922).
A Marcha do Sal (1930): O ponto de viragem
Em março de 1930, Gandhi anunciou que ia violar a lei britânica do monopólio do sal. A 12 de março saiu do Sabarmati Ashram com 78 seguidores. A 6 de abril, após 390 km a pé, apanhou um punhado de sal na praia de Dandi.
Milhares foram presos (mais de 60 000). A imprensa mundial ficou obcecada. Até a Era Vitoriana e o Império Britânico 1837-1901 nunca tinha visto nada assim: um homem quase nu desafiava o maior império do mundo.
Round Table Conferences e o Pacto Gandhi-Irwin
Em 1931, Gandhi foi o único representante do Congresso na Segunda Conferência da Mesa Redonda em Londres. Usou o seu famoso xaile e a roca de fiar como símbolos. Não conseguiu grandes concessões, mas o Pacto Gandhi-Irwin libertou todos os presos políticos.
A Campanha “Quit India” (1942)
Com a Segunda Guerra Mundial em curso, Gandhi lançou a resolução Quit India a 8 de agosto de 1942:
“Façam ou morram.”
Todo o liderazgo do Congresso foi preso imediatamente. Seguiram-se revoltas populares, sabotagens e repressão brutal (mais de 100 000 presos, milhares de mortos). Gandhi ficou detido no Palácio do Aga Khan em Pune com Kasturba, que morreu lá em 1944.
Independência e Partição: A maior dor de Gandhi
A 15 de agosto de 1947, a Índia tornou-se independente. Mas veio acompanhada da Partição: criação do Paquistão. Milhões de hindus, muçulmanos e sikhs foram deslocados. Massacres em Punjab e Bengala: estimativas de 500 000 a 1 milhão de mortos.
Gandhi recusou-se a celebrar. Jejuou várias vezes para parar a violência. A 13 de janeiro de 1948 iniciou o seu último jejum em Délhi, exigindo que hindus e muçulmanos vivessem em paz.
Assassinato (30 de janeiro de 1948)
A 30 de janeiro de 1948, Nathuram Godse, nacionalista hindu da organização RSS, disparou três tiros à queima-roupa contra Gandhi durante a oração vespertina em Birla House. As suas últimas palavras teriam sido “Hey Ram” (“Ó Deus”).
India chorou como nunca. O corpo foi cremado em Raj Ghat, onde ainda hoje milhões o visitam.
Filosofia de Gandhi: Satyagraha, Ahimsa e Swaraj
Os 11 votos do Ashram (base da vida comunitária)
- Satya (Verdade)
- Ahimsa (Não-violência)
- Brahmacharya (Castidade/controle dos sentidos)
- Asteya (Não roubar)
- Aparigraha (Não possessão)
- Sharirshrama (Trabalho físico)
- Aswada (Controlo do paladar)
- Abhaya (Ausência de medo)
- Sarva Dharma Samanatva (Igualdade de todas as religiões)
- Swadeshi (Uso de produtos locais)
- Sparshbhavna (Remoção da intocabilidade)
Influências intelectuais
- Bhagavad Gita
- Henry David Thoreau (“Desobediência Civil”)
- Leon Tolstói (correspondência intensa)
- John Ruskin (“Unto This Last” – inspirou a economia dos trustees)
- Jesus (Sermão da Montanha)
- Jainismo (ahimsa radical)
Legado global
- Martin Luther King Jr. – “Cristo deu-nos o objetivo, Gandhi deu-nos os métodos.”
- Nelson Mandela – “Gandhi foi o primeiro a aplicar a não-violência em escala política.”
- Dalai Lama, César Chávez, Lech Wałęsa, Aung San Suu Kyi, todos citam Gandhi.
Perguntas Frequentes sobre Mahatma Gandhi
Gandhi era contra toda a tecnologia?
Não. Ele era contra a tecnologia que escravizasse o homem (fábricas gigantes) mas usava comboios, telegramas e até aviões quando necessário.
Porque usava apenas um dhoti?
Para se identificar com os mais pobres da Índia. “Como posso vestir fatos caros quando milhões não têm roupa?”
Gandhi apoiava a Partição?
Não. Preferia ver a Índia dividida em mil pedaços a aceitar a divisão religiosa. Jejuou contra ela até quase à morte.
Porque é chamado Mahatma?
O título foi dado pelo poeta Rabindranath Tagore em 1915. Gandhi detestava-o e dizia que era apenas “um pecador que tenta melhorar”.
Qual é o melhor livro para começar a estudar Gandhi?
A própria autobiografia “A Minha Verdade” (The Story of My Experiments with Truth).
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E se quiser continuar a viagem pela história da Índia antiga, não perca:
- Civilização do Vale do Indo c. 3300-1300 a.C.
- Impérios Maurya e Gupta e a Era de Ouro da Índia c. 322 a.C.–550 d.C.
- Budismo c. 500 a.C.–presente
- Asoka – o imperador que se converteu ao budismo
Porque, como o próprio Gandhi dizia:
“O futuro depende do que fazemos no presente.”
Namaste 🙏
















