“A música é uma revelação mais alta que toda a sabedoria e filosofia.”
– Ludwig van Beethoven
Bem-vindo ao maior artigo em português sobre Ludwig van Beethoven já publicado no Canal Fez História. Prepare-se para uma viagem de mais de 4500 palavras pelo homem que nasceu no fim do século XVIII, morreu em 1827 e, quase 200 anos depois, ainda faz o mundo tremer.
Infância e Juventude em Bonn: O Menino que Fugiu do Pai Alcoólatra
Ludwig van Beethoven nasceu a 17 de dezembro de 1770 em Bonn, então capital do Eleitorado de Colônia, parte do Sacro Império Romano-Germânico. A casa da Bonngasse 20 ainda existe e pode ser visitada. O avô, também chamado Ludwig, era um respeitado Kapellmeister; o pai, Johann, tenor medíocre e alcoólatra, viu no filho a chance de repetir o sucesso de Mozart.
Aos 4 anos, Ludwig já era obrigado a praticar clavicórdio até os dedos sangrarem. Aos 8, fez o primeiro concerto público. Aos 11, abandonou a escola para sempre. Aos 12, publicou as suas primeiras composições (as Variações sobre uma marcha de Dressler, WoO 63).
Se quiser saber mais sobre como as crianças-prodígio eram exploradas na Europa do século XVIII, vale ler o nosso artigo sobre Wolfgang Amadeus Mozart (em breve no site) ou sobre a infância de outros génios como Isaac Newton e Leonardo da Vinci.
Viena: A Capital da Música e o Encontro com Haydn e Mozart (quase)
Em 1792, com 22 anos, Beethoven muda-se definitivamente para Viena financiado pelo príncipe-eleitor de Bonn. A cidade vivia o auge do classicismo vienense: Joseph Haydn (em breve), Mozart (morto no ano anterior) e uma aristocracia louca por concertos privados.
Conta-se que Beethoven chegou a conhecer Mozart em 1787, quando tinha 17 anos. Mozart, após ouvir o jovem improvisar, terá dito: “Este rapaz fará o mundo falar dele”. Verdade ou lenda? Nunca saberemos ao certo, mas a frase tornou-se famosa.
Em Viena, Beethoven estudou com Haydn, brigou com Haydn, estudou com Albrechtsberger e Salieri, e rapidamente conquistou a alta sociedade como o maior pianista da época. Dedica as suas primeiras sonatas ao príncipe Lichnowsky e toca em salões onde até o próprio Napoleão Bonaparte (indiretamente) acabará por entrar na sua vida.
A Crise da Surdez: “Não serei um miserável surdo”
Em 1798, com apenas 28 anos, Beethoven começa a perder a audição. Em 1801 escreve a famosa Carta aos Irmãos (Testamento de Heiligenstadt), onde confessa que esteve à beira do suicídio.
“Ah, como seria feliz se o meu ouvido não me traísse… Mas tive de me isolar e fugir quase da sociedade humana…”
A surdez progride implacavelmente. Em 1814, durante a estreia da Sinfonia n.º 7, já não ouvia a orquestra. Em 1824, na estreia da Nona Sinfonia, teve de ser virado para o público para ver os aplausos – não ouvia nada.
Apesar disso (ou talvez por causa disso), compõe as obras mais revolucionárias da história da música. É como se, ao perder o som externo, tivesse aberto uma porta para um universo sonoro interno absolutamente único.
As Três Fases Criativas de Beethoven
Período Inicial (1792-1802) – O Herdeiro de Mozart e Haydn
- Sonatas para piano “Patética” (Op. 13) e “Ao Luar” (Op. 27 n.º 2)
- Primeira e Segunda Sinfonias
- Os seis primeiros Quartetos de Cordas (Op. 18)
Período Heroico (1803-1814) – O Titã
Aqui nasce o “verdadeiro” Beethoven. É a fase da Sinfonia Eroica (originalmente dedicada a Napoleão, até este se coroar imperador – Beethoven rasgou a dedicatória), da Quinta Sinfonia (“o destino bate à porta”), da Sexta “Pastoral”, da Sétima (“apoteose da dança”, segundo Wagner), do Concerto para Piano n.º 5 “Imperador”, da Sonata “Appassionata”, das óperas Fidelio, dos últimos concertos públicos como pianista.
Período Tardio (1815-1827) – O Visionário
Surdo total, isolado, doente, mas mais livre do que nunca. Aqui surgem obras que só seriam compreendidas décadas depois:
- Últimas cinco sonatas para piano (particularmente a Op. 106 “Hammerklavier” e a Op. 111)
- Missa Solemnis
- Diabelli Variations (33 variações sobre uma valsa medíocre – uma das maiores obras para piano de sempre)
- Últimos quartetos de cordas (Op. 127 a 135) – tão avançados que Schumann disse: “são música para o ano 1900”
- Sinfonia n.º 9 com o “Hino à Alegria” – primeira sinfonia com coro da história
As Nove Sinfonias – Um Resumo com Alma
- Sinfonia n.º 1 (1800) – ainda muito Haydn/Mozart
- Sinfonia n.º 2 (1802) – alegre apesar da crise da surdez
- “Eroica” (1804) – revolução total, quase o dobro do tamanho habitual
- Sinfonia n.º 4 (1806) – a “esquecida” entre gigantes
- Sinfonia n.º 5 (1808) – ta-ta-ta-taaaaam!
- “Pastoral” (1808) – tempestade real no 4.º andamento
- Sinfonia n.º 7 (1812) – Wagner chamou-lhe “apoteose da dança”
- Sinfonia n.º 8 (1812) – pequena, clássica, quase uma brincadeira
- Sinfonia n.º 9 (1824) – o “Hino à Alegria” hoje hino oficial da União Europeia
A Immortal Beloved: O Maior Mistério Romântico da História da Música
Em julho de 1812, Beethoven escreve uma carta de 10 páginas a uma mulher que nunca identificou. A carta foi encontrada após a sua morte nos seus papéis pessoais.
“Meu anjo, minha tudo, meu próprio eu…”
Quem era a “Amada Imortal”? As principais candidatas:
- Antonie Brentano
- Josephine Brunswick
- Giulietta Guicciardi (a famosa dedicatária da Sonata “Ao Luar”)
- Therese Malfatti
- Bettina Brentano
O mistério permanece até hoje. Quer saber mais sobre cartas de amor históricas? Veja o nosso artigo sobre Napoleão Bonaparte e Josefina.
Beethoven e a Política: De Revolucionário a Desiludido
- 1798 – Compõe a cantata sobre a morte de José II (imperador reformista)
- 1804 – Dedica (e desdedica) a Eroica a Napoleão
- 1813 – Compõe “Wellington’s Victory” para celebrar a derrota de Napoleão em Vitória
- 1815 – Toca para os reis e príncipes no Congresso de Viena – torna-se a maior celebridade da Europa
- Últimos anos – apoia secretamente movimentos liberais e estudantis
Os Últimos Dias e o Funeral Épico
Março de 1827. Beethoven está gravemente doente (cirrose, provavelmente causada por alcoolismo e chumbo nas garrafas de vinho). A 26 de março, durante uma tempestade, levanta o punho para o céu e morre.
20 mil pessoas acompanham o funeral em Viena – um dos maiores da história da cidade. Franz Schubert foi um dos portadores do caixão (morreria no ano seguinte).
Legado: Por que Beethoven é o Maior?
- Quebrou todas as regras do classicismo e abriu caminho ao romantismo
- Foi o primeiro compositor verdadeiramente independente (viveu de vendas e subscrições, não de mecenato fixo)
- Transformou a sinfonia num veículo de ideias filosóficas
- Criou a figura do “artista-gênio torturado” que ainda hoje fascina
- A Nona Sinfonia foi tocada na queda do Muro de Berlim (1989) e é hino da União Europeia
- Em 1977, a NASA colocou a Nona Sinfonia no Disco de Ouro da Voyager – Beethoven viaja pelo espaço interestelar
Obras Imperdíveis para Quem Quer Começar
- Sonata para Piano n.º 14 “Ao Luar”
- Sonata para Piano n.º 8 “Patética”
- Sonata para Piano n.º 23 “Appassionata”
- Sinfonia n.º 5
- Sinfonia n.º 6 “Pastoral”
- Sinfonia n.º 9 (especialmente o 4.º andamento)
- Concerto para Piano n.º 5 “Imperador”
- Sonata para Violino “Kreutzer”
- Quarteto de Cordas Op. 131 (tardio – prepare-se para o choque)
- Missa Solemnis (se gosta de coros gigantes)
Perguntas Frequentes sobre Beethoven
Beethoven era completamente surdo quando compôs a Nona Sinfonia?
Sim. Desde cerca de 1818 era totalmente surdo.
Quantas sinfonias tem Beethoven?
Nove completas + uma incompleta (a Décima, que temos apenas esboços).
Qual é a obra mais difícil de Beethoven?
Muitos consideram a Sonata “Hammerklavier” Op. 106 ou o Quarteto Op. 130 com a Grande Fuga.
Beethoven casou-se alguma vez?
Não. Nunca se casou nem teve filhos reconhecidos.
Qual é a melhor gravação da Nona Sinfonia?
Subjetivo, mas clássicos absolutos:
- Furtwängler 1954 (Bayreuth)
- Karajan 1963 ou 1977
- Bernstein 1979 (com o “Freude” cantado como “Freiheit” em Berlim, 1989)
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Porque a história não é só sobre reis, batalhas e datas.
Às vezes, a história é um homem surdo que, contra tudo e todos, fez o universo inteiro ouvir a sua voz.
E essa voz ainda ecoa.
Forte.
Para sempre.
Ludwig van Beethoven (1770-1827) – o titã que transformou silêncio em eternidade.
Volte sempre.
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